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Pinacoteca expõe a arte 'fora da caixa' de Mira Schendel

Retrospectiva, exibida em Londres, foi eleita uma das melhores mostras do ano

Trabalhos de uma das reinventoras do modernismo no Brasil podem ser vistos em SP a partir de quinta (24)

ADRIANA KÜCHLER EDITORA-ASSISTENTE DA "SERAFINA"

Mira Schendel não tem o apelo pop de David Bowie, o potencial "selfístico" de Yayoi Kusama ou o caráter lúdico de Ron Mueck. Mira foi uma das maiores artistas do Brasil. E a Pinacoteca espera que isso seja suficiente para que você a visite partir de quinta (24), quando será aberta uma retrospectiva de sua obra.

Para os que ligam para rótulos, é importante dizer que essa exposição esteve em cartaz na Tate Modern, de Londres, em 2013, e foi eleita pelo jornal "The Guardian" como uma das melhores do ano.

Atração nova no mundo estrangeiro da arte, Mira é velha conhecida dos paulistanos. Nascida em uma família judia na Suíça, em 1919, e criada como católica na Itália, desembarcou no Brasil em 1949, fugindo da perseguição fascista.

Veio ser artista em São Paulo, onde se casou com o livreiro alemão Knut Schendel e teve a filha, Ada. Na cidade, viveu, criou e morreu, em 1988.

Trabalhava não num ateliê, mas na mesa da cozinha de casa, enquanto fumava feito chaminé. Não era chegada em discutir arte. Preferia falar de filosofia e espiritualidade com amigos como o poeta Haroldo de Campos.

Apontada como uma das reinventoras do modernismo europeu no Brasil, ao lado dos contemporâneos Hélio Oiticica (1937-80) e Lygia Clark (1920-88), Mira não se encaixava em nenhum movimento. "Nunca assinou um manifesto. Não gostava de se limitar. Arte, para ela, era algo existencial", diz Taisa Palhares, cocuradora da mostra.

"Há uma dificuldade em encaixá-la em esquemas de leitura da arte brasileira. E isso talvez tenha atrasado o reconhecimento internacional." Mira passeou por estilos e suportes.

Entre as cerca de 300 obras criadas dos anos 1950 aos 1980 em cartaz na Pinacoteca, estão pinturas figurativas, monotipias em papel de arroz, os chamados objetos gráficos, em que a linguagem vira objeto da arte, e a instalação "Ondas Paradas de Probabilidade", exibida na Bienal de 1969 e feita de centenas de fios de náilon pendendo do teto como uma chuva enclausurada.

Há quem chame Mira de hermética. Taisa diz que essa gente está enganada. Mira fez graça em gravuras escrevendo frases como "Este é um desenho gostoso". Em um objeto gráfico, mistura letras de Chico Buarque a um poema de João Cabral de Melo Neto.

De resto, Mira disse certa vez que seus desenhos eram "feitos para serem vistos e não falados". Calemos, então, na esperança de ver uma exposição bonita e delicada, de poucas selfies, muita calma e nenhuma fila.


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