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Mônica Bergamo

Heroína com garras

Aos 31 anos, Leandra Leal encarna a mocinha do horário nobre com unhas postiças de mulher forte e vê com naturalidade a nudez no cinema; em estreia na moda, a atriz deixa de lado o estilo bicho-grilo

"Linda! Magérrima!", exclama o diretor criativo Giovanni Bianco. "Dá aquele sorriso maroto", pede ele para Leandra Leal durante o ensaio fotográfico da primeira campanha de moda da atriz em duas décadas de carreira.

Aos 31 anos, ela debuta no mundo fashion e estreia como protagonista no horário nobre em "Império", novela das 21h da Globo. De cabelos alongados, Leandra, que sempre fez o gênero bicho-grilo, encarna uma mulher sofisticada diante das lentes do fotógrafo. "É como brincar de boneca ou assaltar o guarda-roupa da mãe", diz à repórter Eliane Trindade.

Ela sobe no salto na próxima campanha da Arezzo, um dos mais cobiçados contratos de publicidade do mercado de moda. Posto que foi de Fernanda Lima na temporada passada. O cachê gira em torno de R$ 200 mil. Enquanto retoca a maquiagem, ela faz "selfies". "É sempre divertido se ver muito diferente e se sentir bonita", admite, ao aprovar o autorretrato no celular.

Um detalhe do visual é escolha dela: as unhas postiças. "Achei que minha personagem na novela tinha que ter unha comprida. Tipo as da Rogéria, que diz que mulher tem que ter garras", conta Leandra, referindo-se à estrela do documentário "Divinas Divas", do qual é diretora e produtora. O longa conta a trajetória dos primeiros artistas homens que se travestiram nos palcos cariocas nos anos 1960. Está em fase de montagem.

As garras são uma contribuição de Leandra para que sua heroína não seja uma mocinha sem graça como outras recentes. Interpreta Cristina, uma jovem pobre que descobre ser filha bastarda do dono do império que dá nome à trama de Aguinaldo Silva.

Veterana, ela diz não temer a pressão por audiência. "Novela das oito é uma instituição. Tem uma visibilidade grande, expectativa, cobrança. Mas isso não faz parte do meu trabalho. Cabe a mim entrar em cena e jogar com meus colegas de elenco."

Leandra parece mesmo lidar bem com os ossos de um ofício ao qual foi "apresentada" aos 20 dias de vida, quando subia ao palco no último ato de uma peça protagonizada pela mãe, Ângela Leal. Cresceu dentro de um teatro, o Rival, fundado por seu avô, no centro do Rio.

Aos 13 anos, ganhava prêmios pela atuação em "A Ostra e o Vento" (1997), de Walter Lima Jr., ao lado de Fernando Torres e Lima Duarte. "Costumo falar que sou criança de circo: nasceu naquele lugar e assim vai. Não houve um momento de dizer: 'Isso é a minha profissão'."

Precocidade e responsabilidade parecem rimar para a atriz que aos 18 anos comprava o primeiro apartamento com o próprio dinheiro. "Trabalho para ser feliz, realizar coisas." Ela conta ter investido parte de suas economias no documentário das divas, por exemplo. "Não me deslumbro, sei o quanto a profissão pode ser ingrata. É difícil envelhecer nela. Minha mãe e amigos dela são exemplos de que é possível fazer uma carreira duradoura, mas não é fácil", diz. "Ser ator é escolha diária."

Está em seu habitat também na televisão. "Amo fazer TV. É um acelerador de processo. Isso não quer dizer que seja menos profundo." Acha bobagem o preconceito que contrapõe a qualidade televisiva à teatral e à cinematográfica. "A TV vive uma era criativa e de renovação." E ela pega carona nesse bonde: vai ser codiretora de "Idade Perigosa", seriado da Globo e da Globosat, depois da novela.

Como diretora e produtora de cinema encara outros desafios. "Quando comecei a produzir, passei a achar que ir para o Projac [estúdios da Globo] é férias. É uma batalha por grana, para exibir, mas ao mesmo tempo é incrível participar de todo o processo."

Leandra está em cartaz com o longa "O Lobo Atrás da Porta", em que faz Rosa, amante de Bernardo (Milhem Cortaz). As cenas de sexo deram o que falar. "É normal ter repercussão. Só quando é exagerada demonstra caretice." Ficar nua diante das câmeras não é problema. "Acho linda a imagem de um corpo nu. Qualquer um, não só o corpo perfeito", diz. "No filme, está no contexto. É um amor doentio, em que o sexo é componente importante. Não dá para contar essa história sem se despir."

Sente-se confortável no corpo atual (59 kg, em 1,68 m), mais enxuto. "Tive uma adolescência bem sanfona e costumam me associar a esse período. Emagreci com orientação de um médico e malhando. Não existe fórmula."

Já foi fotografada por paparazzi correndo ao lado do marido, o apresentador Alê Youssef, com quem está há quatro anos. Mas diz que raramente é alvo de fotógrafos de celebridades. "Não me exponho o tempo inteiro. Nem vou a eventos badalados. Minha vida não vira novela."

Na maratona de gravações, não tem curtido as belezas cariocas. "Saio do Projac e vou para a ilha de edição." Além de "Divinas Divas", finaliza um curta sobre a Copa para o canal SporTV. Coube a Leandra e a suas duas sócias na Daza Produções retratar o olhar dos estrangeiros sobre o Rio durante o Mundial. "Coletamos imagens dos diferentes turistas, desde aqueles que vieram de trailer até aqueles dos hotéis e albergues."

E avalia: "A Copa foi um marco para a gente e também para o posicionamento do Brasil no mundo, do nosso talento para fazer festa. Isso é uma dádiva e deve ser explorado de forma positiva. É uma força econômica nossa".

Fala com bem menos empolgação de política. "Sempre declarei voto, mas agora não sei ainda em quem votar para presidente. Estou superindecisa", diz. "Existe uma semelhança muito grande entre os candidatos, nos discursos, nas alianças por tempo de TV. Isso me deixa um pouco desesperançada."

Quer ver temas polêmicos como descriminalização das drogas debatidos às claras. "O Brasil tem que pensar em outras soluções. A guerra às drogas mata mais do que elas em si." Defende ainda um outro olhar sobre o aborto. "Ninguém é a favor. É uma coisa muito dura, mas a mulher tem direito sobre o seu corpo e o Estado tem de ampará-la quando se encontra frente a esse dilema."

A maternidade começa a figurar no horizonte próximo da atriz. "Está cada vez mais chegando perto. Vejo muitas amigas com filhos e sou madrinha de cinco." A futura vovó Ângela já pode se preparar para ninar o bebê com as histórias que embalaram a infância de Leandra. "Em vez de Branca de Neve, minha mãe me fazia dormir contando sobre as 82 pessoas que embarcaram no Granma [barco] para fazer a revolução em Cuba."

Entre elas estavam Fidel Castro. Em uma visita à ilha, para participar do Festival de Cinema de Havana, Ângela levou a filha para um jantar com o então presidente cubano. "Foi emocionante. Ele era uma figura lendária pra mim." Leandra tinha sete para oito anos, a idade em que estreava na TV numa ponta na novela "Pantanal" (1990).


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