Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Memórias

Pianista compõe retratos pessoais de músicos

Em livro, Jocy de Oliveira narra técnica de grandes compositores de quem foi amiga, como Stravinsky, Berio e Santoro

ELA CICERONEOU STRAVINSKY NO RIO, EM 1963; O COMPOSITOR PERMANECEU NO COPACABANA PALACE, LENDO PROUST E BEBENDO CHAMPANHE

JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A compositora, pianista e escritora Jocy de Oliveira, 78, é uma referência histórica para quem se interessa pela vanguarda musical da segunda metade do século 20.

Ela lança nesta quarta (6), às 19h30, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em São Paulo, "Diálogo com Cartas": são 444 páginas generosamente ilustradas, em que interpela personagens amigos ou dos quais foi intérprete. E que, mesmo quando vivos, já eram monumentos da modernidade.

Entre alguns exemplos, aqui estão Igor Stravinsky (1882-1971), Luciano Berio (1925-2003), Karlheinz Stockhausen (1928-2007), John Cage (1912-1992) ou Claudio Santoro (1919-1989).

Jocy enxergava por uma dupla janela de observação. De um lado, como pianista dedicada ao repertório contemporâneo. Foi ela, por exemplo, quem fez a estreia mundial de "Cheap Imitation", de John Cage, em 1971.

De outro lado, como mulher do maestro Eleazar de Carvalho (1912-1996), era obviamente privilegiada sua convivência com solistas e compositores. Nos Estados Unidos, Eleazar foi professor de regência no Festival de Tanglewood e titular da Sinfônica de Saint Louis.

A correspondência agora reunida certamente servirá de fonte para musicólogos e biógrafos. O livro traz uma visão técnica muito precisa sobre a maneira pela qual cada um de seus amigos-compositores estruturava suas linguagens.

Mas são também deliciosos os retratos pessoais que ela esboça de seus amigos. Ela ciceroneou Stravinsky no Rio, em 1963, quando aqui estrearam suas "Missa" e "Sinfonia para Sopros".

O compositor, diz ela, preferiu não respirar os ares culturais do Brasil. Permanecia fechado e entediado no Copacabana Palace, lendo Proust e tomando champanhe no café da manhã.

Sobre Berio, escreve ela, "estava completamente fascinada pelo carisma (...) que me desvendava um novo horizonte sonoro, me passava um discurso esquerdista convincente e sabia exercer um poder de sedução".

Quanto a Santoro, era "baixinho, olhar vivo, sagaz, sempre com um chapéu enterrado na cabeça e esboçando um sorriso. Tinha um temperamento combativo, mordaz, brigão e chorão".

A versão de Jocy sobre a conversão dele ao nacionalismo, em 1947, é mais complexa que a geralmente aceita. Não foi só por imposição do Partido Comunista, mas uma "volta às raízes" que nos anos 1960 ganhou uma linguagem experimental.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página