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Crítica Exposição

Mostra destaca caráter dramático dos últimos trabalhos de Leonilson

Retrospectiva na Pinacoteca abre mão de cenografia para destacar vigor da obra do artista, morto em 1993

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

"Ah, e você/Mr. One Night Stand at Toilets on airplanes", diz o texto bordado em tecido por Leonilson, referindo-se ao encontro sexual com um israelense numa viagem de avião.

A obra, uma das 150 expostas na Pinacoteca, faz parte da seção "Os Diários", na qual o curador Adriano Pedrosa salienta o caráter biográfico da obra do artista.

Poucos na história da arte brasileira expuseram-se de modo tão aberto, livre e poético como José Leonilson (1957-1993). Talvez aí esteja um dos elementos que mantenham a obra tão forte e atual.

Tendo despontado num cenário que tinha a volta à pintura como questão central, Leonilson deslocou-se desse debate sem graça sobre suporte para criar uma obra vigorosa e ao mesmo tempo frágil --em papel, lona, feltro, voile ou no jornal. Ele encarnou em sua obra o drama da contaminação pela Aids.

A curadoria de Pedrosa reforça o caráter multifacetado e dramático de Leonilson, exibindo as obras criadas em seus últimos anos, que ele considera o período "maduro", quando Leonilson já tinha consciência da doença.

Um dos grandes méritos da mostra é expor essa obra contundente sem buscar competir com ela, como ocorreu com "Sob o Peso de Meus Amores", organizada no Itaú Cultural há três anos, que teve cenografia medonha e seleção bastante discutível, ao mesclar objetos pessoais, obras e descartes de obras.

A mostra é limpa e deixa o trabalho de Leonilson falar por si mesmo. Uma das salas mais impressionantes é a dedicada aos brancos: influência, segundo Pedrosa, do norte-americano Robert Ryman.

Ela ganha ares quase tão espiritualizados ou transcendentais como a última instalação de Leonilson, também na mostra, reencenação de um projeto para a Capela do Morumbi, em 1993, que ele não chegou a ver finalizada.

A exposição reúne 94 das 102 ilustrações feitas por Leonilson para a coluna de Barbara Gancia na Folha, entre 1991 e 1993, que se revelou um ótimo diálogo. Para um artista que retirou da vida pessoal elementos essenciais em sua obra, a ilustração no jornal se transformou em poesia.


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