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Novos documentos expõem perseguição a Glauber Rocha

Relatórios feitos pelo Serviço Nacional de Informações na ditadura militar foram entregues a filha do cineasta

Texto de 1972 afirma que o diretor 'usou e abusou do cinema brasileiro em prol da revolução comunista'

ADRIANO BARCELOS DO RIO

A Comissão Estadual da Verdade do Rio entregou à família do cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981), na tarde do sábado (16), documentos inéditos produzidos pela ditadura militar (1964-1985) sobre o diretor.

Os papéis, do Serviço Nacional de Informações (SNI), foram dados a Paloma Rocha, 55, filha de Glauber, na solenidade de comemoração dos 50 anos do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", no Parque Lage, zona sul do Rio.

Em todos as páginas, há a observação de que as informações são confidenciais --o segredo foi derrubado pela Lei de Acesso à Informação, em vigor desde 2012.

Os relatórios narram prisões, relações de Glauber no mundo artístico, características "esquerdistas" do cinema novo e entrevistas à imprensa de Cuba e da Europa em seu autoexílio, de 1971 a 1976.

O texto mais extenso acompanha duas entrevistas a publicações britânicas em 1971.

Na apresentação, o autor qualifica as falas de Glauber ao "Times" e à "Time Out" como "um dos mais violentos ataques feitos ao Brasil em qualquer órgão da imprensa britânica". Diz também que o ator favorito de Glauber é Othon Bastos (Corisco em "Deus e o Diabo"), "nome conhecido pelo envolvimento político e ideológico".

Presente à cerimônia do sábado, Othon foi aplaudido.

O acompanhamento da rotina de Glauber, segundo registros levantados no Arquivo Nacional, se segue em 1972, desta vez após entrevista à revista "Cine Cubano".

O relatório afirma que o cineasta "usou e abusou do cinema brasileiro, do qual recebeu incentivos, em prol da revolução comunista".

Diz, ainda, que comentários de Glauber sobre "Carlos Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Caetano Veloso, Gil, José Celso Martinez, demonstram, ampliam, os conhecimentos que, embora já sabidos, devem ser sempre lembrados, sobre as verdadeiras finalidades das atividades desses elementos".

Um trecho lido no sábado provocou risos. Diz que "a situação maléfica que exercem (Glauber e seu grupo) está sempre presente, bastando lembrar o grande sucesso que, há pouco, tiveram Caetano e Gil em sua temporada no Brasil, onde atuaram até no Teatro Municipal, num achincalho àqueles que combatem a subversão no Brasil".

'MORTO'

Outro detalhe chamou a atenção. Na primeira página de um dos documentos, de 1971, aparece a palavra "morto", escrita a caneta.

Segundo Nadine Borges, presidente da omissão, há indícios de que se tratava de um código para assassinar o opositor marcado. Valdemar Martins de Oliveira, ex-para-quedista, mencionou a prática ao depor, afirma Borges.

Mas não há como assegurar, por exemplo, que "morto" não tenha sido escrito sobre a ficha depois da efetiva morte de Glauber, por doença, em 1981, ou em outra oportunidade.

Emocionada, Paloma diz acreditar na possibilidade de que a inscrição significasse mesmo uma sentença de morte para seu pai. "Antes de ser perseguido e o assassinato dele ter sido decretado, ele já tinha essa consciência", afirmou a filha do cineasta.


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