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Mônica Bergamo

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QUASE TUDO

Patricia Pillar chega aos 50 anos de bem com a vida e emendando sucessos na TV; sem filhos, a atriz tenta "desmistificar essa coisa de que todo mundo é feliz o tempo todo"

Há exatos 12 anos, Patricia Pillar estrelava o horário eleitoral ao lado do então marido Ciro Gomes, candidato a presidente da República. Protagonista de "O Rebu", novela das 23h da Globo, a atriz se recorda hoje com distanciamento do papel que poderia tê-la transformado em primeira-dama do país em 2002.

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"Botei o pé na estrada. Estava com Ciro na campanha por me identificar com o projeto dele para o país. Ele tem uma visão moderna e sabe do que está falando. Compartilhamos esse amor pelo Brasil", diz ela à repórter Eliane Trindade, enquanto toma um café em um shopping do Rio, após uma tarde de gravações no Projac.

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Separada desde 2011, após 16 anos de relacionamento, a atriz que já declarou que "ama Ciro para sempre" diz que sua admiração pelo político também não acabou. E lamenta o fato de o ex-ministro e ex-governador do Ceará estar fora da corrida presidencial. "Acho que Ciro faz muita falta. O debate está vazio, pobre de ideias."

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Patricia ainda não decidiu em quem votar nas próximas eleições. "Não anulo voto. Vou escolher o menos pior. Mas não vou dizer quem é, pois ainda não sei."

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Elogia Marina Silva ("uma mulher de um valor extraordinário") e Dilma Rousseff ("uma mulher direita, bem intencionada"), mas não declara voto nem para a herdeira de Chico Mendes nem para a presidente que busca a reeleição. "Dilma fez um governo frágil." Lamentou a morte de Eduardo Campos (PSB): "A perda de um político tão jovem é uma tragédia grande em um país com tão poucas lideranças".

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Patricia já viveu o céu e o inferno de uma disputa presidencial. Viu-se no centro de uma polêmica, após Ciro declarar em 2002 que o papel dela na campanha era o de "dormir" com ele. A brincadeira machista marcou o início da queda vertiginosa do candidato, que estava em primeiro lugar nas pesquisas.

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Do mesmo modo que o defendeu na época, ela o faz hoje. "Muito da linguagem do Ciro, que a gente daqui [do Sudeste e do Sul] estranha e acha grosseiro, é do interior. De onde ele vem [nasceu em Pindamonhangaba (SP) e foi criado em Sobral (CE)], tem essa maneira de falar." E segue: "É raro um político se colocar. Ciro é digno, tem caráter".

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Deixa claro que o título de primeira-dama nunca a seduziu. "Sabia que poderia vir a ter uma responsabilidade, mas sempre achei bobagem essa coisa. Ser primeira-dama era um papo besta perto de tudo que estávamos vivendo e da vontade de que o país desse certo."

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Tem também visão crítica sobre a indústria das celebridades. "Para minha geração, ser popular e aparecer na TV nunca foi um valor", diz ela, listando suas contemporâneas Julia Lemmertz, Débora Bloch, Gloria Pires e Fernanda Torres. "Quando começamos, a graça não era o sucesso, ganhar dinheiro, fazer comercial. Nosso interesse era no personagem, no autor."

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Prefere fincar os pés no chão para enfrentar altos e baixos da profissão. "Sei que o sucesso é efêmero. Sempre fui muito responsável. Comprei meu primeiro apartamento aos 20 anos", afirma. "Prezo minha liberdade. Mas, para ser livre, não se pode ser apegada a nada. Nem ao sucesso nem ao dinheiro."

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Liberdade que lhe permitiu escolher trabalhos na TV, onde estreou em "Roque Santeiro" (1985). Foi em "O Rei do Gado" (1996) que conheceu José Luiz Villamarim, que a dirigiu em "Cabocla" (2004), "Amores Roubados" (2014) e agora em "O Rebu". "Patricia construiu uma carreira linda. Sabe escolher personagem e não fica na zona de conforto", diz o diretor.

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As cenas de sexo com Cauã Reymond em "Amores Roubados" deram o que falar. "Esquentaram a temperatura geral da nação", brinca. Ela diz que nunca é confortável fazer. O segredo é "contar uma história bem construída e deixar o personagem agir". "Falei para o Cauã: Faz o que o seu personagem tem que fazer'."

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Também se sente desconfortável de tirar a roupa em cena. "Fiz pouco nu e acho quase sempre desnecessário. Agora, não vejo problema quando está no contexto."

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Diz ter chegado aos 50 anos sem sobressaltos. "Estou bem pra caramba, sabia? Bem comigo mesma, vivendo um momento muito bom profissionalmente. Muitos trabalhos bacanas, com gente que eu gosto. É isso que importa."

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"É claro que não tenho a mesma disposição para algumas coisas. A pele já não é a mesma de antes. Eu me sinto uma pessoa de 50. Mas numa boa, com tranquilidade. Não quero fingir que o tempo não passou. Tive muitos ganhos nessa estrada. Não gostaria de voltar no tempo."

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Há 12 anos, Patricia venceu um câncer de mama. "É um sustão, mas já foi. Faz parte de ter uma vida normal esse assunto não ocupar mais tanto espaço." Diz se cuidar, mas sem radicalismos. "Bebo meu vinho, meu uísque. Como um pouco de tudo, até batatinha frita. Aposto no equilíbrio."

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A maternidade não aconteceu. Patricia conta que após cinco anos do término do tratamento de câncer poderia ter engravidado. "Com 38 anos, eu já podia tentar novamente. Aventei a possibilidade, mas foi passando e não tive. Foi uma escolha. E não tenho arrependimento."

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Conta ter elaborado a questão no divã. Faz análise há 20 anos. "Sou maternal. Gosto de cuidar. Então, exercito essa coisa de ser mãe com amigos, sobrinhos, pai e colegas. De alguma maneira, isso está presente", afirma. E conclui: "São perdas da vida. Eu tento desmistificar essa coisa de que todo mundo é feliz o tempo todo. Ninguém vai ter tudo".

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Cita ainda outras pressões. "Temos que trabalhar, ser independente, ter filho, estar namorando." Está solteira? "Estou bem [risos]", limita-se a responder. "Namoro, caso, separo e ninguém sabe." Mais risos. Discrição que fez com que o fim do casamento com Ciro só se tornasse público um ano após a separação. "Minha vida pessoal não está disponível."

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Ela só não acha engraçadas notícias sobre seus supostos namoros, como aconteceu recentemente ao sair da festa de lançamento da novela na companhia de Quito Ribeiro, editor de imagens da produção. "Dividimos um táxi e já viramos namorados", irrita-se. E solta o verbo: "Escrevem o que querem. Inventam. Usam a gente para alimentar o próprio negócio. É violento". Um rebu.

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"Sempre achei bobagem essa coisa [ser primeira-dama]. Era um papo besta perto de tudo que estávamos vivendo e da vontade de que o país desse certo"

"Para minha geração, aparecer na TV nunca foi um valor. A graça não era o sucesso, ganhar dinheiro"


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