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Arte tecnológica fica mais 'contemplativa'

Obras no Festival Internacional de Linguagem Eletrônica focam menos a tecnologia para priorizar aspectos formais

Curadora do evento diz que trabalhos fogem das projeções no escuro e se aproximam mais da escultura tradicional

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Quando a fachada do prédio da Fiesp, na avenida Paulista, começa a acender e apagar com animações um tanto psicodélicas, paulistanos já sabem que está em cartaz o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, o File, este ano em sua 15ª encarnação.

Mais uma vez, como de costume, uma obra ocupa a casca metálica do prédio, um colorido vulcão em erupção com lava eletrônica que escorre nas cores do arco-íris.

Lá dentro, o tom segue estroboscópico, com trabalhos que giram, piscam, berram e se mexem em velocidade cada vez maior, numa espécie de balada ultratecnológica.

Nada mal para quem acha os museus de arte lugares muito calminhos e estáticos. Mas é nesse ponto que o File deste ano parece inovar, deslocando o foco de obras escandalosas, calcadas no deslumbre da tecnologia, para peças mais contemplativas.

Logo na entrada, uma instalação do artista japonês Ei Wada em que fitas magnéticas se desenrolam vagarosas dentro de caixas de acrílico para depois serem sugadas de volta para o lugar é um contraponto delicado à algazarra que domina o festival.

Nessas fitas, está gravada uma valsa e seu lento desenrolar parece corresponder à cadência da música, dando uma dimensão física do som, até que a ação de rebobinar subverte esse espetáculo de forma um tanto violenta.

"Leva meia hora para a fita se desenrolar, mas ela volta para o lugar em um minuto", diz Wada. "É uma reflexão sobre o caráter físico do som, imaginando como sociedades futuras veriam esse velho suporte de gravação."

Outra obra nessa veia menos espetacular são cadernos criados pelo norte-americano Matt Kenyon. De longe, eles parecem ter folhas pautadas normais, dessas que se compram nas papelarias.

Mas cada linha é, na verdade, formada pela inscrição diminuta dos nomes de civis mortos no Iraque durante a ocupação americana do país.

"Levei esses cadernos para o almoxarifado do governo americano", conta Kenyon, sobre a obra que acaba de entrar para o acervo do MoMA, em Nova York. "A ideia é que isso entre nos arquivos permanentes do governo, que os nomes estejam debaixo do nariz dos que comandam essas operações."

FIM DA CAIXA PRETA

É nesse sentido que Paula Perissinoto, uma das organizadoras do File, diz que as obras no festival estão menos presas às caixas pretas, no caso, a projeções luminosas em ambientes sempre escuros.

"Esses novos trabalhos estão ganhando um caráter de escultura", diz Perissinoto. "Eles já têm um caráter mais plástico, são organismos vivos agora mais independentes da ação do espectador."

De fato, uma ala inteira deste festival tem vídeos mais convencionais, com a diferença que o que surge na tela é às vezes meio assustador.

Um deles é o clipe da banda japonesa Sayonara Ponytail, em que uma colegial canta um pop chiclete debaixo d'água numa piscina, com o detalhe que seus olhos estão arregaladíssimos. Dá medo.


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