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Crítica - Drama

Mais que mero filme biográfico, 'Violette' atualiza questões essenciais da literatura

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

O nome próprio como título e a trama concentrada na trajetória de uma importante escritora francesa do pós-guerra aproxima "Violette" do filme biográfico, variante do vírus que contamina o cinema com tantas histórias "baseadas em fatos reais".

De fato, o primeiro objeto do filme aparenta ser o percurso meio maldito de Violette Leduc, bastarda, bissexual e protofeminista numa época em que quase nada disso era admissível.

Os recortes temporais no roteiro escrito pelo diretor Martin Provost em companhia do respeitado jornalista e biógrafo René de Ceccatty afastam "Violette" da obsessão por fidelidade e explicação comuns ao filme biográfico.

Os traumas infantis e as frustrações afetivas e sexuais são evocados mais com o objetivo de esboçar uma figura de contornos difusos do que explicá-la.

Ao mesmo tempo que retrata o martírio de uma artista, "Violette" se interessa também pelas ideias da época, quando os protagonistas do existencialismo sugeriam outros caminhos mentais e comportamentais.

Por isso, a presença de Simone de Beauvoir (1908-86) no filme ganha mais força do que a de coadjuvante de luxo. Em vez da imagem luminosa que as fotografias guardaram de Beauvoir, o filme contrasta uma figura espectral, um duplo descarnado e intelectual da violenta corporeidade que anima Violette.

A diferença entre as duas personagens mistura-se aos motivos distintos para a criação literária, fruto de disciplina e cálculo, mas também de dor e catarse.

Assim, mais que um supérfluo drama biográfico, "Violette" atualiza, para nossa época que confunde literatura, autoficção e autopromoção, questões mais fundamentais, como "para que se escreve?" e "para quem se escreve?".


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