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Crítica - Comédia

Longa de inglês Mike Leigh é equívoco

Mesmo com bom diretor, filme faz corte radical entre felizes e infelizes em cenas desinteressantes

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Não é fácil dizer o que pretendia Mike Leigh com seu filme de 2010, "Mais um Ano". Ele começa com um belo primeiro plano de Imelda Staunton, isto é, Janet, mulher de meia-idade, simples, que vai a um posto de saúde em busca de remédio para dormir.

Ali é informada que insônia não é doença, mas sintoma. E sintoma de quê? As pessoas começam a lhe fazer perguntas, em particular a assistente social Gerri. O rosto misterioso do plano de abertura continua um mistério.

E de repente, Janet some do filme, que será doravante dedicado a Gerri e e a seu marido, o geólogo Tom. Tom e Gerri formam uma dupla feliz (não é a primeira para quem lembra de Tom & Jerry do desenho animado). Cultivam sua horta e se amam. Amam o filho, que mora longe, mas é boa pessoa e também realizado, aparentemente.

Cultivam ainda a amizade de Mary, colega de trabalho de Gerri um tanto aloprada, mas, pior, bem desequilibrada. Mary parece ter sofrido muitas frustrações nas relações com os homens. A amizade tem, portanto, um quê de assistência social.

Mais do que isso, designa esse corte radical entre felizes e infelizes, adaptados e inadaptados que o filme executa ao longo das quatro estações do ano. E, pior, ao longo de cenas bem desinteressantes, em que Leigh parece buscar o humano a partir de seus gestos cotidianos, de sua superfície.

Se existe algo que "Mais um Ano" demonstra é que a superfície não é para qualquer um. Se não é expressão de algo muito amplo, consegue captar muito pouca coisa.

Clichês, por exemplo: Mary, a alcoólatra. Mary, atirando-se para o filho da amiga, que bem poderia ser filho dela. Mary se enrolando toda com o carro que acabou de comprar. Gerri e Tom compreensivos em relação a ela.

E Janet, onde ficou? Sumiu para não mais voltar. Será que Imelda Staunton tinha outro compromisso? Ou brigou com Mike Leigh? Não importa: assim como o filme padece de falta de interesse nos personagens que sobraram, sofre também com a estrutura mais que torta.

O filme é um equívoco em toda linha, embora feito por um bom diretor.


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