Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cineasta destacado, Julian Schnabel tem pintura reconhecida

Telas do diretor de 'O Escafandro e a Borboleta' passam por momento de valorização crítica e chegam ao Masp

Mostra tem telas dos anos 1980 até hoje, algumas delas pintadas sobre lona de caminhão e até em velas de barcos

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Quando Julian Schnabel despontou no mundo da arte, no fim dos anos 1970, críticos não sabiam o que dizer sobre sua obra, em especial suas pinturas sobre pratos quebrados.

Uma única certeza era ligar sua aparição --tão espalhafatosa e espetacular quanto os altos preços de suas obras-- a uma época de crise de valores, com a arte entrando de vez no mundo das finanças.

Não é diferente de hoje. Suas famosas pinturas sobre pratos quebrados não estão em sua mostra agora no Masp, mas estão lá composições pintadas sobre lonas de caminhão e velas de barco.

Schnabel, mais conhecido do público por ter dirigido filmes como "O Escafandro e a Borboleta" e "Antes do Anoitecer", já era pintor antes de sua incursão no cinema.

Mas agora ele voltou a pintar, despertando reações semelhantes às dos anos 1970, ou seja, voltou a estar na moda, para o bem ou para o mal.

Depois de uma exposição no início deste ano na galeria Gagosian, em Nova York, Schnabel chega ao Masp chancelado pela crítica internacional, que enfim reconheceu sua influência sobre as novas gerações de pintores.

"Venho fazendo minhas pinturas do mesmo jeito nos últimos 40 anos, mas os gostos vão mudando", diz Schnabel. "Esse reconhecimento poderia ter acontecido décadas atrás, mas é agora que novos artistas parecem estar olhando mais a minha obra."

E essa obra, Schnabel gosta de frisar, surge da liberdade na escolha dos materiais, ou de coisas vistas de relance que ele traduz em telas carregadas de cor e certa violência nos gestos, como se as pinturas surgissem em surtos espontâneos de criatividade.

Sua ideia de pintar sobre cacos de pratos, por exemplo, veio da visão do parque Güell, em Barcelona, famoso pelos mosaicos de porcelana colorida inventados por Gaudí.

Numa viagem ao Cairo, Schnabel convenceu pescadores a venderem as velas de seus barcos para que ele usasse como tela em suas pinturas, enquanto lonas de caminhão em forma de cruz são a base para a série de obras que criou em homenagem ao amigo Cy Twombly, pintor americano morto há três anos.

"Queria materiais que me deixassem fazer pinceladas maiores", conta Schnabel. "São coisas utilitárias, usadas para cobrir e esconder objetos, como as lonas, que abrem caminhos para novos significados na minha obra."

De fato, Schnabel não parece esconder nada. A transparência de seus processos e a crueza dos materiais estão em sintonia com o seu desejo expansivo, às vezes desesperado, de contar histórias.

No caso da série sobre Twombly, Schnabel retoma a ideia do artista para quem as pinturas eram arenas cheias de referências a heróis da literatura, ou seja, a pintura como espécie de campo magnético e transcendental, capaz de digerir outras artes.

Nesse ponto, seu cinema não está distante da obra plástica. Schnabel, que já contou em filme a vida do poeta cubano Reinaldo Arenas e do artista americano Jean-Michel Basquiat, diz que retratar alguém numa pintura não está distante disso.

"Quando você retrata alguém, é sua responsabilidade não deixar aquela imagem escapar", afirma Schnabel. "É como atores em cena, que naquele momento também estão muito vulneráveis. Vejo isso como ir para a guerra com alguém, sendo que o objetivo é voltar vivo para casa."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página