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Coletivos de fotografia mapeiam Santos

Encontro de grupos de 11 países da América Latina e da Espanha resultou em ensaios contemporâneos sobre a cidade

Casa atingida pelo avião de Eduardo Campos e a entrada de imigrantes foram temas de trabalhos

DAIGO OLIVA EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Quase um ano após o fim da Cia de Foto, coletivo que rejuvenesceu a fotografia brasileira nas últimas décadas, o modelo de trabalho em conjunto continua em alta.

Na última semana, 20 grupos de 12 países se reuniram no 3º Encontro de Coletivos Fotográficos Ibero-Americanos, realizado em Santos. Concentraram-se num espaço construído com contêineres na orla para debates e produção de ensaios sobre a cidade do litoral paulista.

Segundo o catalão Claudi Carreras, curador e organizador do evento, a escolha de Santos se deve à sua importância como porta de entrada para produtos de diversos países, uma alusão à confluência de culturas.

Outro fator que pode ter ajudado na escolha do lugar para o evento foi o aporte financeiro do Sesc local, onde o resultado dos trabalhos é exibido. A mostra faz parte do festival Mirada. Segundo a assessoria do Sesc, o E.CO, como foi batizado o encontro, recebeu cerca de R$ 500 mil.

ARQUEOLOGIA

Entre as ideias propostas para mapear a cidade está o registro da casa onde caiu o avião do então candidato Eduardo Campos. Membros do coletivo Altavista, da Praia Grande, afirmam interpretar a tragédia como uma possível quebra da hegemonia do PT no governo federal.

A junção dos grupos Mídia Ninja (Brasil), SUB Cooperativa de Fotógrafos (Argentina) e Paradocs (Equador) explorou a relação de moradores de Cubatão com a natureza, destoando do rótulo dado à cidade, vizinha a Santos, como uma das mais poluídas do país. Os grupos também acompanharam rappers da Baixada Santista.

Outros coletivos apresentaram projetos mais experimentais, como os mineiros do SC02 que, em registros feitos em um fundo branco, buscaram uma espécie de arqueologia contemporânea ao fotografar objetos que foram levados ou trazidos pelo mar.

Já o Garapa trabalhou ao lado do grupo Dokumental, do Uruguai, em trípticos que fazem relação entre imagens de imigrantes japoneses que chegaram ao país na década de 1950, o mar, e africanos que aportam hoje no Brasil escondidos em contêineres.

Um dos convidados de destaque do E.CO, o coletivo espanhol BlankPaper não participou do ensaio sobre Santos. Além de palestras, os fotógrafos Óscar Monzón e Fosi Vegue ajudaram apenas na edição dos trabalhos.

"Chegar a um lugar quase como um turista me faz sentir que não posso falar com propriedade sobre a cidade", explica Monzón. Os fotógrafos dizem acreditar, porém, que o exercício proposto pela curadoria pode ser realizado por grupos que conseguem trabalhar dentro deste tempo e deste tipo de aproximação.

SUPORTES

Segundo Carreras, a tônica desta edição do encontro foi a fotografia expandida para outros suportes. Ele cita como destaque a presença dos argentinos do Iconoclastas, coletivo formado por arquitetos que fizeram um mapeamento de Santos a partir das diferentes escalas sociais da cidade.Para o curador, os grupos que contam com diferentes formações são os que "levam a fotografia para outros lugares".

Outro grupo que destoa do modelo tradicional é o La Piztola. Os mexicanos reproduzem fotografias em grande escala usando estêncil, com mensagens de protesto e figuras que representam a luta contra o narcotráfico.

Os grafiteiros Roberto Vega, 32, e Rosario Martinez, 33, contam que a produção artística foi uma extensão do trabalho de ação social que realizam em sua cidade, Oaxaca.

Se a assinatura em grupo -- debate clássico sobre coletivos-- está ultrapassada, para Carreras a importância do formato hoje está na produção.

"Trabalhar junto forma produtos mais sólidos. Se você tem pessoas para discutir o seu livro, com certeza ele será melhor." Os membros do BlankPaper que, embora formem um coletivo, publicam individualmente, concordam.

"Fotografar é um trabalho solitário, que muitas vezes parece não ter nenhum sentido. Se está num coletivo, você se sente motivado a aprender e a avançar", defende Monzón. "É bom ter alguém com confiança para dizer se está bom ou ruim", completa Fosi Vegue. "Como uma terapia em grupo?", pergunta a reportagem. "Com certeza."


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