Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica - Romance

Mero folheto turístico, filme não apreende espírito carioca

Em 'Rio, Eu te Amo', imagens de cartão-postal são exploradas até a náusea

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

"Rio, Eu te Amo" reúne uma série de crônicas concebidas em homenagem à cidade do Rio de Janeiro.

Desde aí, a desigualdade dá o tom. Haverá episódios tão simpáticos quanto acomodatícios, como o de Andrucha Waddington (ocasião para Fernanda Montenegro brilhar e, ao mesmo tempo, uma simplificação infantil da rua como moradia escolhida).

Em outros, a crítica surge mais grosseira do que violenta, como no episódio de José Padilha, coisa visivelmente concebida às pressas. Ali, Wagner Moura, numa asa-delta, manda uma banana para o Cristo Redentor. Passados alguns meses dos protestos de rua pelo país, mal dá para saber a que o personagem está se referindo.

No conjunto, os problemas principais são de duas ordens: primeiro, são tantos os segmentos a acomodar que poucos deles se realizam no pouco tempo de que dispõem (o de Paolo Sorrentino, sobre o americano em cadeira de rodas, é um deles).

Segundo, sendo um filme internacional, alguns episódios são concebidos em função do Rio, já outros poderiam acontecer em qualquer parte do mundo --de novo o de Sorrentino, ou o de John Turturro (com ele mesmo).

Há casos de episódios inventivos, como o do garçom vampiro (Tonico Pereira) e suas vampiras do morro do Vidigal. Mais estranho ainda é que seja o episódio do coreano Im Sang-soo.

Este é, aliás, o único segmento em que o morro é mencionado de forma explícita, e os personagens negros parecem mais que convenções cinematográficas concebidas para um filme em que o essencial, afinal de contas, são as tomadas aéreas da cidade.

Tomadas do Pão de Açúcar, do Corcovado, vistas aéreas da baía, com lagoa, sem lagoa, e mais Pão de Açúcar, mais Corcovado, e Copacabana, e uma noturna apenas, com os arcos da Lapa, animados com clichês musicais brasileiros.

Nelas, surge um Rio limpo, uniforme, harmônico: não bem um Rio de sonho, mas vendável. "Rio, Eu te Amo" seria cem vezes mais interessante (e mais eficaz como operação comercial) caso conseguisse apreender algo do espírito carioca contemporâneo em lugar de se propor como mero folheto turístico.

Poderia, por exemplo, adaptar textos de Sérgio Porto, Nelson Rodrigues, Fernando Sabino etc. etc. --enfim, de cronistas do Rio e do espírito carioca. Mas a opção foi mesmo por um filme que funcionasse como um folheto turístico recheado de imagens de cartões-postais, exploradas, aliás, até a náusea.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página