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Bellini de Bellotto volta desiludido e se joga na música
Quase dez anos após última obra da série, personagem ressurge mais velho, curte rock e tem de ouvir sertanejo
Em novo livro do autor roqueiro, protagonista aparece às voltas com um sequestro e com mulheres em Goiânia
Um romance policial costuma ser um terreno minado, com uma convenção a cada passo. Tony Bellotto, o guitarrista dos Titãs, escolheu o terreno minado para sua estreia na literatura, em 1995.
O livro "Bellini e a Esfinge" apresentava um detetive de São Paulo, investigador particular, fã de blues, sem nada muito especial: o vizinho da quitinete ao lado.
As balizas de Bellotto eram os mestres do gênero. "Raymond Chandler e Manuel Vázquez Montalbán pelo cinismo, Georges Simenon pela capacidade de criar uma atmosfera e Rubem Fonseca por provar que o Brasil é noir", diz ele.
Foram três livros com o personagem: "Bellini e a Esfinge" (1995), "Bellini e o Demônio" (1997) e "Bellini e os Espíritos" (2005). O quarto romance da série acaba de sair, e é um dos melhores: "Bellini e o Labirinto".
Depois de quase dez anos longe das livrarias, Bellini entra com tudo no mundo da música. "O Bellini é basicamente um amante de blues tradicional, o blues do Mississipi. Agora deu para citar Jimi Hendrix e até Led Zeppelin. Tudo certo. Na hora em que ele começar a ouvir Bossa Nova vou ficar preocupado", diz Bellotto.
A história se passa em Goiânia (GO), coração da música sertaneja, e pega o personagem aos 40 anos, calejado, às voltas com um sequestro, mulheres e césio-137 (substância que causou acidente radioativo na cidade em 1987).
Há personagens com os nomes engraçados de sempre: a dupla sertaneja Marlon & Brandão, uma adolescente de apelido Riboca (do tênis Reebok) e uma girafa chamada Marianne Faithfull.
A música está em toda parte, bem como a velha ironia de Bellini. "Ele está mais amargo e desiludido. Mais velho, com certeza. De resto, continua o mesmo existencialista melancólico de sempre."
Não é pouco para a tradição meio rala de detetives nativos. Com exceção dos personagens verossímeis, violentos e clássicos de Rubem Fonseca.
"Ele é uma referência constante no meu trabalho, um mestre que muito admiro", afirma Bellotto.
"Rubem exerceu enorme influência nos escritores da minha geração, gente que começou a publicar nos anos 1990. Hoje em dia seu prestígio anda meio em baixa, talvez pelo surto incontrolável de mediocridade que nos assola. Mas continua a produzir material de altíssima qualidade, basta ler Amálgama', seu mais recente trabalho."
O noir brasileiro ainda está vivo, graças também ao detetive Remo Bellini.