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Historiadora examina sobrenatural no país

'Do Outro Lado', de Mary del Priore, recolhe histórias de bruxaria, exorcismos, 'mesas volantes' e casas mal-assombradas

No fim do século 19, tentativas de contato com os mortos viraram febre e conquistaram aficionados ilustres

DE SÃO PAULO

O novo livro da historiadora Mary del Priore investiga uma das mais antigas dúvidas da humanidade: o que há depois da morte?

Não há pesquisa, por mais completa, que dê conta dos mistérios do lado de lá, mas Del Priore traz um saboroso relato de como o lado de cá lida com o inexplicável.

"Do Outro Lado" conta a história do sobrenatural e do espiritismo na sociedade brasileira, entre meados do século 19 e começo do 20.

Apresenta relatos sobre casas mal-assombradas, "mesas volantes", lendas, cartomantes, curandeiros e exorcismos, recolhidos em livros e na imprensa da época.

Há 12 anos Del Priore abandonou a carreira de professora na USP para se dedicar a escrever sobre a história do país. Seus livros, como "Histórias Íntimas", já venderam mais de 200 mil exemplares.

"Meu projeto é escrever para o grande público. Há uma fome enorme pela história que os trabalhos da academia não conseguem contemplar. O sobrenatural, especialmente, sempre desperta muito interesse, mas não é estudado em profundidade", diz.

As primeiras notícias de "mesas volantes" no Brasil datam de 1853. A famosa experiência de pessoas agrupadas em torno de uma mesa, tentando se comunicar com os mortos, era então febre na Europa, especialmente na França, e conquistou uma legião de adeptos por aqui também. O jornal "O Cearense" trazia relatos de mesas e bancos de piano que se moviam em "rotação vigorosa" em reuniões em Fortaleza.

Já no Rio, pouco depois, o exorcismo entrou na moda. Segundo reportagens da época, inclusive de João do Rio (1881-1921), não era incomum cruzar com pessoas "endemoninhadas" pela ruas da cidade. O exorcista frei Piazza, conhecido como o "grande combatente dos diabos", encabeçava a luta contra o mal.

"É muito interessante observar como a irracionalidade está presente no mundo racional. O século 19 foi de grande avanço, com a chegada do bonde, do telefone. E ao mesmo tempo as práticas do satanismo, do vampirismo, estavam no auge."

As experiências sobrenaturais atraíram também artistas e intelectuais. Há relatos de que o poeta Castro Alves (1847-1871) teria estudado obras de Allan Kardec (1804-1869), pai do espiritismo, e intencionava, pouco antes de morrer, escrever um poema dramático inspirado na doutrina.

Já o escritor Coelho Neto (1864-1934), ao que tudo indica, acreditava na comunicação com o além por telefone.

Na corte brasileira, a homeopatia e o espiritismo encontraram um bravo defensor em Manuel José de Araújo Porto-Alegre, o barão de Santo Ângelo (1806-1879). Em carta de 1867, a dom Pedro 2º, invocou ordens divinas para condenar a escravidão.

"Acabai com a escravidão, Senhor. Porque Deus assim determinou e porque vos falo em Seu Nome", escreveu. "Estou vendo porque minha alma está no futuro", completou.


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