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Mônica Bergamo

Pode vir quente

Longe das novelas, Caio Castro faz presença VIP em 15 eventos por mês, diz que foi sua a opção de romper contrato fixo com a Globo e cobra respeito de colegas que o criticaram por declarar que não gosta de teatro

Caio Castro desembarca no aeroporto de Congonhas. A área de saída de passageiros está quase vazia. De gorro, óculos escuros e mochila, ele parece pensar que vai passar incólume aos corriqueiros e insistentes pedidos de foto com fãs. Já está entrando no carro quando sente uma mão em seu ombro. "Ô, posso tirar uma foto?", pergunta uma mulher. "Claro, mas ô' não, né?", responde, para depois sorrir para a "selfie" --a primeira de uma série de mais de cem que encararia na sequência como "presença VIP" numa feira de fitness.

"Estou acostumado. Por mais que tenha um fanatismo das meninas, elas respeitam bastante. O problema é quando estou acompanhado. Fico um pouco constrangido", diz ele à repórter Marcela Paes, no trajeto do aeroporto até o Transamérica Expo Center.

Na noite anterior, participou da inauguração de uma loja em Ribeirão Preto (SP). Segundo ele, 2.000 meninas o esperavam em um shopping. "Cara, faz quase um ano que ninguém me vê na TV! Pensei: o que está rolando?! Mas não é ruim. Vejo como oportunidade de ter o público como um termômetro", diz ele, cujo papel mais recente foi o médico Michel na novela "Amor à Vida" (Globo), encerrada em janeiro.

Descoberto pela emissora aos 17 anos em um concurso no programa de Luciano Huck, o paulista de Praia Grande resolveu encerrar seu contrato fixo com o canal. Diz que pediu para ser pago por obra para poder investir em papéis no cinema.

"Teve um risco, eu fiquei preocupado. Como seria a reação da Globo? Conversei com muita gente, inclusive colegas, e quase ninguém me apoiou. Minha avó quase me matou, minha mãe ficou superpreocupada. Mas eu tinha que fazer. Quando conseguiria esse respeito? Só aos 50 anos? Ainda tenho 25!"

Foi especulado que o ator teria perdido o contrato por causa de frequentes atrasos para gravações depois de "noitadas". E por recusar convites para atuar em novelas. "Isso não é verdade [risos]. Não sou de night' todo dia, mas, se meu trabalho for feito com excelência e eu entregar o que é pedido, desculpa a palavra, mas foda-se o que faço da minha vida. Qual o problema se eu cheguei virado?", diz, já descendo do carro no pavilhão de exposições.

Antes de entrar, Caio é cercado por quatro seguranças. Sandro Andrade, seu assessor desde o começo da carreira, ajuda na barreira humana e avisa a repórter: "Cuidado pra não se machucar. As meninas vêm em cima mesmo. Vai ser punk".

Andando rápido, com jeitão de rock star, ele passa --sem a dificuldade esperada-- pelos corredores e vai direto para o aquário de vidro preparado pelo contratante para recebê-lo. Uma fila de mulheres está em frente ao estande da marca, celulares e câmeras em punho. "Meu Deus, como é gato. Mas é muito mais baixinho do que eu pensava", comenta uma delas. "Quem é esse? Algum ex-BBB?", questionavam dois homens que observam a confusão de longe.

Caio segue o repetitivo script à risca. Sorri para os cliques e cumprimenta a todos. Segundo o assessor, a maturidade para honrar o compromisso dos cerca de 15 eventos por mês veio após um episódio: "Uma vez ele não queria ir a uma sessão de fotos. Expliquei que, se ele faltasse, prejudicaria todos os envolvidos. A copeira, o cara do cenário, a maquiadora... Desde então, ele não falta nunca".

A demanda para presenças em eventos é proporcional ao interesse da imprensa pela vida do ator. Figurinha fácil em sites de fofocas, ele diz fazer tudo para manter um mínimo de privacidade.

"Não sou celebridade, sou ator. Ser celebridade, pra mim, é ficar vendendo a vida: contando que fez cirurgia plástica genital, que mudou de sexo. Eu vendo serviço, vendo arte, personagens. É esse meu barato", diz, enquanto repara em uma BMW X5 preta que passa no trânsito, já no caminho de volta da aparição na feira "fitness".

Ele não fala de valores, mas afirma que o pé-de-meia, feito com as presenças em festas de 15 anos e eventos, campanhas publicitárias e o contrato com a Globo, tem destino certo: viagens e gastos com a família e amigos. Deu um carro de presente para a atriz Giovanna Lancellotti, sua companhia frequente.

"Dinheiro demais é problema. Me faz mais feliz ver meus amigos e a família bem. Optei por não deixar meus pais trabalharem mais", diz. Ele paga o curso de inglês da mãe numa faculdade nos EUA. "Hoje sou eu quem falo brincando: quero ver o boletim!", conta.

No começo do ano, virou alvo de críticas de colegas como Laura Cardoso, Miguel Falabella, Rosamaria Murtinho e Pedro Paulo Rangel, entre outros. Eles repudiaram a declaração do ator, numa entrevista à apresentadora Marília Gabriela, em que assumia que não gosta de ir ao teatro.

"Essa polêmica serviu pra eu ver que a idade não ensina a ter respeito. Achei falta de ética. Como um cara que trabalha com você fala mal assim? Acho uma porrada de coisas erradas. Nem por isso fico falando pra ganhar espaço. É falta do que fazer. Não me abalou."

Mantém o silêncio também quando o assunto é a eleição. Caio, que teve uma foto de um encontro casual com Marina Silva e seu vice, Beto Albuquerque, publicada no Instagram oficial da candidata à Presidência, diz que seu voto é secreto. "É complicado acreditar nos políticos. É muita palhaçada. Não sou expert no assunto, mas tenho consciência política. Só não quero influenciar ninguém."

"Morto de fome", ele para em uma padaria no bairro da Vila Olímpia. Antes de comer o sanduíche de queijo, tomate seco e rúcula, tira o gorro, fecha os olhos e faz uma oração. O ator, que no passado se declarou evangélico, hoje diz "não definir sua fé".

"Religião é missão, é pra sempre. Cada dia que passa tenho menos vontade de pertencer a um grupo, generalizar meus ideais e acabar entrando num clã de charlatões. Vejo igrejas que se tornaram um business' e se aproveitam da fé pra ganhar dinheiro."

Ele aproveita o momento de folga para pensar nas próximas viagens e conta sobre a que mais gostou. "O Japão foi animal! Minha ficha não caía. Todo mundo olhava pra mim porque eu era diferente, mas ninguém me conhecia. E nem me pediam pra tirar foto. Isso foi muito louco!", diz, para logo depois atender aos pedidos de foto de duas fãs que estão na mesa ao lado.


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