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Crítica - Ensaio

Autor mobiliza arsenal impressionante de referências em seu estudo histórico

ADRIANO SCHWARTZ ESPECIAL PARA A FOLHA

Franco Moretti anuncia no início de "O Burguês" que pretende estudar essa figura histórica refratada "pelo prisma da literatura".

A proposta do pesquisador de Stanford é investigar como ela se insinua no século 18 em obras como "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe, consolida-se algumas décadas depois, com Goethe, Balzac, George Eliot, no "século burguês" --que enxergava com profunda "seriedade" sua existência cotidiana--, surge transfigurada nas periferias do planeta (e aqui um de seus casos é Machado de Assis) e então, misteriosamente, vai de modo lento desaparecendo em seguida, ainda que o capitalismo, a sua contraparte econômica, se torne cada vez mais dominante.

Para isso, o autor mobiliza um arsenal impressionante de referências e utiliza de modo alternado duas propostas de leitura crítica.

Primeiro, a análise de recursos de prosa recorrentes e significativos (o estilo indireto livre, os "adjetivos vitorianos") e também o rastreamento de palavras-chave ("útil", "eficiente", "conforto") pinçadas em bancos de dados que reúnem centenas de romances de períodos históricos determinados e que se tornam instrumentos poderosos de discussão.

O vaivém entre história e literatura, a preocupação de que os dois campos se expliquem e se iluminem mutuamente, já aparece no subtítulo do estudo, "O Burguês - Entre a História e a Literatura".

Às vezes, porém, as passagens são muito rápidas, e as constatações, muito enfáticas e definitivas. Outras vezes, a perspectiva totalizadora da obra deixa na penumbra eventuais exceções, casos que talvez a problematizassem.

Na introdução do livro, Moretti afirma que se trata de um "ensaio militante, sem nenhuma ambição enciclopédica". Não sei se é bem assim, mas sei que eventuais questionamentos não podem diminuir a força da aplicação de um método crítico tão inteligente.


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