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Crítica - Drama

Atuação limpa de Marieta Severo dá tom a 'Incêndios'

Próxima de tragédia grega, peça tem um jogo interessante entre elenco

GUSTAVO FIORATTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nawal morre, e seus filhos gêmeos herdam dois envelopes e uma missão. Em testamento, a mãe pede para que uma carta seja entregue ao pai, que eles davam por morto, e a outra, a um irmão, cuja existência desconheciam. A peça "Incêndios" começa assim, como uma gincana.

Criar enigmas logo de cara (O que há nas cartas? Onde está o pai? E o irmão? O que vai acontecer no encontro?) é um artifício manjado na dramaturgia. Funciona, e prende a atenção da plateia na mesma medida em que engessa a peça em fórmulas.

O que resgata o texto do libanês Wajdi Mouawad da banalização é a aproximação com uma tragédia grega, de cuja estrutura também tira partido. A peça empresta um monte de coisas de "Édipo Rei", mas uma em especial: o passado é revelado aos poucos a partir de uma investigação, e há algo vertiginoso neste caminho sem volta.

Com uma interpretação limpa e vigorosa, Marieta Severo (Nawal) dá o tom necessário para o resto do elenco não deixar vestígios de um possível melodrama. A encenação de Aderbal Freire-Filho também promove um jogo interessante entre os atores, borrando os limites temporais da peça.

É este o trunfo do espetáculo: as cenas em flashback, que mostram a árdua trajetória da mãe, tangenciam o presente dos filhos. Sem paredes entre mortos e vivos, eles se tocam, chegam a ouvir uns aos outros. Floresce ali uma imagem referente às ditaduras.

Dessa forma, a obra forja o sentido de que passado, presente e futuro formam uma massa única, intimamente ligados entre si.


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