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Festival do Rio exibe filmes sobre violência
'À Queima Roupa' retoma chacina do Vigário Geral e 'Estopim' trata sobre caso Amarildo
Enquanto uma mulher conta em detalhes como certa noite encontrou oito parentes assassinados, aparecem, intercaladas, fotos de cada um desses corpos, alvejados durante o que ficou conhecido como chacina de Vigário Geral, ocorrida em 1993 na favela da zona norte do Rio.
O documentário "À Queima Roupa", de Theresa Jessouroun, que tem exibição nesta sexta (26) no Festival do Rio, seguida de debate com a diretora, explora alguns dos episódios mais conhecidos de violência cometida pela polícia carioca nos últimos 20 anos.
"Aquela chacina foi um marco porque foi quando a corrupção da polícia foi deflagrada pela imprensa: como negociavam porcentagens com o tráfico e como disputavam poder. Aquele enfileirado de cadáveres chocou o mundo", diz a diretora à Folha. "Não adiantava ficar só no passado, fatos tão graves quanto continuam acontecendo até hoje."
A outra ponta desse histórico de violência é explorada em "O Estopim", de Rodrigo Mac Niven, a ser exibido na segunda (29), às 17h, no Cinépolis Lagoon (av. Borges de Medeiros, 1424; tel. 21- 2512-3002).
O filme se debruça sobre o caso Amarildo, pedreiro morto por policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha em 2013 e cujo corpo nunca foi achado. "O caso Amarildo foi singular: extrapolou as fronteiras da comunidade, levou as pessoas a descerem o morro e fecharem ruas na zona sul", diz o diretor.
Os dois filmes concorrem com outros oito na mostra competitiva de documentários do Festival do Rio.
Um dos grandes achados de "À Queima Roupa" é o informante Ivan, de sobrenome não divulgado, o "X9" que entregou policiais do grupo de extermínio. "Ele já tinha falado no tribunal, mas os detalhes não tinham sido divulgados ao público", diz Theresa.
Ivan detalha, por exemplo, como a polícia fazia para sumir com os corpos.
Segundo a diretora, o filme foi chamado de "o Tropa de Elite' dos documentários" por mostrar os bastidores da corporação. A produção reconstitui algumas chacinas no Complexo do Alemão (zona norte) e na Baixada Fluminense. "Alguns casos foram tão bárbaros que até parecem ficcionais", afirma Theresa.
"O Estopim" também recria algumas cenas: Brunno Rodrigues interpreta Amarildo na Rocinha e no que pode ter sido sua sessão de tortura. "A gente quis humanizar essa pessoa que a polícia tentou criminalizar", diz Mac Niven.
Quem conduz o filme é Duda, morador da Rocinha que conhecia Amarildo e que já fazia denúncias contra a polícia antes da morte do pedreiro. "A UPP tinha que ser uma unidade de política pública, e não de polícia pacificadora", diz no filme.