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Crítica - Romance

Heloisa Seixas triunfa sobre riscos do banal

Autora escapa do melodrama fácil e refaz percurso de uma vida inteira em narrativa fragmentada e magnética

MARCELO O. DANTAS ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Oitavo Selo", de Heloisa Seixas, é uma pequena joia: um livro breve, porém de delicado encanto, cuja maior virtude está na sutileza com que abarca os grandes temas da existência.

Pode-se lê-lo de estirada, em uma tarde de domingo ou ao longo de um voo demorado. No entanto, por detrás do despojamento da autora e da aparente leveza do texto, opera inelutável força gravitacional, que nos suga para dentro da história e não permite que ela nos fuja ao encerrar-se a última página.

O enredo não traz surpresas. Trata-se de uma quase memória dos embates do jornalista e escritor Ruy Castro, marido da autora, contra a droga, o alcoolismo e as doenças.

Sabemos todos que o herói resiste e que continua a jogar, solerte, sua partida de xadrez contra a morte. Ainda assim, Heloisa Seixas triunfa sobre as armadilhas do banal para brindar-nos com narrativa dinâmica e magnética, que nos descortina o profundo, sem jamais impô-lo ao texto.

São sete capítulos temáticos (os sete selos), compostos, a sua vez, de um conjunto de episódios não lineares, entremeados por brevíssimos depoimentos.

Semelhante técnica funciona à perfeição para mostrar-nos, sem risco de tédio, o percurso de uma vida inteira. Nela, vemos o menino deparar-se com a morte e lançar-se na vida; vemos o rapaz desvendar o mundo e mergulhar no vício; vemos o homem driblar a foice para encontrar a escrita. Ao final da jornada, um lampejo de eternidade se anuncia...

Autora de grandes recursos e igual bom gosto, Heloisa Seixas faz do leitor seu sócio na construção emotiva e intelectual de "O Oitavo Selo". Ela nos diz o mínimo e nos mostra apenas o essencial. Porém, o faz com tal arte que os vazios do texto e as palavras não enunciadas nos chamam a participar, de forma ativa, da composição final de claros e sombras.

Talvez justamente por isso a narrativa escape tanto ao melodrama fácil quanto ao memorialismo pueril, fazendo de cada um dos "selos" rompidos uma abertura paradigmática para o universal.

Mais que uma referência ao filme de Bergman, merece este "O Oitavo Selo" as palavras que o anjo diz a são João no capítulo 10 do Apocalipse: "Toma (este pequeno livro) e devora-o! Ele te será amargo nas entranhas, mas, na boca, doce como o mel".


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