Folha de S.Paulo

Crítica rock

Cantores se arriscam longe de suas bandas e lançam álbuns diferentes

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Três vocalistas de bandas bem importantes na cena rock lançam agora discos solo. Thom Yorke solta um álbum parecido com aqueles que grava no Radiohead. Já Julian Casablancas e Karen O se distanciam do trabalho de seus grupos --Strokes e Yeah Yeah Yeahs, respectivamente.

Afirmar que "Tomorrow's Modern Boxes" se parece com álbuns do Radiohead pode soar esquisito, já que a própria banda inglesa nunca lança um disco igual ao anterior.

Mas é justamente a atmosfera de experimentação do grupo que Yorke "importou" para seu trabalho. Com mais intensidade do que demonstrou em seu primeiro solo, "The Eraser", de 2006.

Yorke inova até na maneira de lançar o álbum, que pode ser baixado no Bit Torrent, compartilhador de arquivos muito utilizado na pirataria digital. O disco é destravado para download por US$ 6 (R$ 15).

O produtor, Nigel Godrich, é o mesmo do Radiohead. Ele repete as camadas sonoras sobrepostas. A voz de Yorke continua invulgar. O que falta mesmo é uma safra inspirada de novas músicas.

A tentativa de traduzir as faixas nada melódicas --Yorke segue distante do formato canção-- leva a classificá-las de música ambiente misturada com som eletrônico. Claro, um eletrônico nada pop, nem um pouco sacudido.

O disco vai facilmente do quase agradável ao muito desagradável. Difícil imaginar o material tocado em shows.

Yorke gravou um item para seus fãs, que provavelmente vão ouvir e reouvir para descobrir todos os detalhes escondidos em oito peças musicais intrincadas.

DIVERSIFICAÇÃO

Enquanto o disco de Yorke é realmente complexo, o de Julian Casablancas finge que é. "Tyranny" vai de uma barulheira punk anacrônica, como "Where No Eagles Fly", a uma espetacular balada de 11 minutos, "Human Sadness".

Casablancas gravou com a banda The Void, na qual o entusiasmo vale mais do que a técnica. Rock simples, tosco, com batida pesada.

Quem viu o show do cantor no Lollapalooza Brasil, em abril, sabe que os caras mais atacam os instrumentos do que propriamente tocam.

Mas Casablancas ouviu muito rádio quando garoto e, como em seu primeiro solo, "Phrazes for the Young" (2009), seu ecletismo fica escancarado, misturando batida de discoteca com pianos e rock básico de três acordes.

"Tyranny" é um álbum diversificado em estilos, mas tudo é tocado de forma simples, com poucos instrumentos.

Fãs na internet já chamam o disco de uma versão rock de "Yeezus", o último e minimalista (e ótimo) de Kanye West.

Enquanto os Strokes se esfalfam para voltar a fazer discos tão bons quanto seus primeiros CDs, seu cantor mostra que está cheio de boas ideias.

SÓ ANTIGAS

"Crush Songs", o solo de Karen O, não é exatamente "novo". Essas "canções de paixões" (tradução livre do título do álbum) são registros feitos entre 2006 e 2007. Praticamente só voz e violão.

Parece gravado sem a mínima pretensão, como alguém dedilhando o instrumento no sofá de casa.

Assim, é fácil lembrar da balada simples e bonita que ela fez para a trilha de "Ela", de Spike Jonze. "The Moon Song", indicada este ano ao Oscar, é parente próxima dessa safra que Karen tira do baú.

"Native Korean Rock", "Beast" e "King", esta uma ode ao "rei do pop", Michael Jackson, são peças delicadas, do tipo que só uma voz incrível consegue sustentar.

E foi a voz de Karen que tornou o Yeah Yeah Yeahs maior do que apenas mais uma banda animada de pop rock.

TOMORROW'S MODERN BOXES
ARTISTA Thom Yorke
LANÇAMENTO Independente
QUANTO US$ 6 (cerca de R$ 15) no site tomorrowsmodernboxes.com
AVALIAÇÃO regular

TYRANNY
ARTISTA Julian Casablancas
LANÇAMENTO +180 Records
QUANTO US$ 7,99 (cerca de R$ 20) em pré-venda na iTunes Store
AVALIAÇÃO ótimo

CRUSH SONGS
ARTISTA Karen O
LANÇAMENTO Kobalt
QUANTO US$ 9,99 (cerca de R$ 25) na iTunes Store
AVALIAÇÃO bom