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Crítica - Teatro

Peça 'Osmo' é monólogo de muitas presenças

Ator Donizeti Mazonas interpreta protagonista que, ao tomar banho, abre universo de regiões psicanalíticas

GUSTAVO FIORATTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se o sujeito está ali, na frente do espectador, e fala sozinho no palco, isso se chama monólogo.

Ao revelar que os papéis da solidão são variados como uma legião, o espetáculo "Osmo" estilhaça seu protagonista em tanta coisa que aquilo que chamaríamos de monólogo se torna um coro de muitas presenças.

Com texto adaptado da obra da poeta e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004) e direção de Suzan Damasceno, o ator Donizeti Mazonas interpreta um homem solitário, tomando banho.

Simples assim, em seu monólogo, ele vai conduzindo a plateia por um universo de regiões psicanalíticas com zonas de escuridão abissal.

Cabe perguntar-se sobre o que o personagem está falando, mas sobretudo para quem ou para o quê.

Essas duas questões iniciais da peça se abrem para enigmas de dimensões ainda maiores a respeito da relação entre o homem e o mundo, entre o corpo e a alma.

Osmo, o protagonista, inicia a conversa falando sobre um monstro que habita um lago. Um menino vai apanhar uma flor e acaba engolido.

O personagem explica então que o monstro e a flor estão em seus papéis mais cômodos, de esperar. O menino, não. Ele se arrisca em busca de algo, em movimento.

PROFUNDO OCEANO

Faz lembrar uma canção do Radiohead, "Weird Fishes/Arpeggi", que, em um verso, diz: "in the deepest ocean/ the bottom of the sea/ your eyes/ they turn me/ why should I stay here?" (no mais profundo oceano/ o fundo do mar/ seus olhos/ voltam-se em mim/ por que eu permaneceria aqui?).

Pois durante o banho, Osmo vasculha um oceano ao passo em que fala de mulheres, da mãe, da relação com as estrelas, da morte e da masturbação. Por que ele ficaria ali, apenas?

Mazonas conduz sua performance pela exata compreensão de uma incessante busca. Nos momentos de lucidez, dirige-se à plateia; em breves delírios, é capaz de passar a impressão de solidão total, da ausência completa, com seus anjos e demônios.

No quadro, há uma segunda presença: a atriz Erica Knapp está em silêncio, sentada, com seu colar de pérolas. Não é um personagem. Talvez o rastro de uma lembrança.


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