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Crítica - Romance

'Por Escrito' exibe ironia e estranheza

Novo livro de Elvira Vigna reafirma singularidade da autora com enredo sem sentido aparente

AOS POUCOS, OS ELEMENTOS DA TRAJETÓRIA DA PROTAGONISTA COMEÇAM A SE ARTICULAR NUMA TRAMA POSSÍVEL, AINDA QUE ELA SEJA INCERTA.

MARIA ESTHER MACIEL ESPECIAL PARA A FOLHA

Um traço recorrente nos romances de Elvira Vigna é a estranheza. Estranhos são seus personagens, sempre em estado de desassossego ou extravio.

Estranhos os acontecimentos que quase não se materializam em fatos identificáveis. Estranha a temporalidade sem contornos de suas narrativas, que não se deixa capturar em calendários e relógios.

Estranha a linguagem, que converte o coloquial em algo inusitado. E ainda quando essa estranheza se repete de romance para romance, ela se torna outra, graças ao seu caráter imprevisível.

O recém lançado "Por Escrito" vem reafirmar isso. Mesmo que certos nomes, cenários e, sobretudo, a linguagem corrosiva já tenham aparecido em romances anteriores, como "Nada a Dizer" (2010), o livro sustenta sua singularidade.

O enredo não é muito passível de resumo, visto que não há propriamente uma trama central que se desenrola ao longo das páginas.

Há uma mulher, Valderez, que narra tudo em primeira pessoa, dirigindo-se a um destinatário explícito, embora quase indefinido: seu amante, que aparece sempre como um "você".

Ela, em constantes idas para algum lugar e vindas para lugar nenhum, faz de hotéis, cafés e aeroportos seus principais pontos de referência.

Os personagens se constituem aos poucos e em fragmentos. Assim como o próprio relato da narradora-personagem, construído a partir da mistura de situações e pessoas do presente com lembranças entrecortadas de um passado remoto ou imediato.

Se, num primeiro momento, a sensação é a de uma certa falta de sentido, aos poucos tudo começa a se articular num enredo possível, ainda que incerto.

Até um suposto crime pode ser depreendido das últimas páginas do romance. A falta de sentido inicial acaba, dessa forma, por fazer todo sentido no conjunto.

Outro ingrediente essencial é a ironia. As convenções, os vícios e hábitos da vida contemporânea são o tempo todo desmontados pelo olhar crítico da escritora, que chega ao sarcasmo em determinadas passagens.

O que não constitui propriamente uma novidade em se tratando de Elvira Vigna, que nunca foi de fazer concessões em seus livros.

Assim, com mais este romance, ela reconfirma sua singular radicalidade na cena contemporânea da literatura brasileira.


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