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Daniel Galera lança seu quarto romance e causa frisson no Brasil e no exterior

Jefferson Bernardes/Folhapress
O escritor Daniel Galera em entrevista em Porto Alegre
O escritor Daniel Galera em entrevista em Porto Alegre
FABIO VICTOR ENVIADO ESPECIAL A LONDRES E PORTO ALEGRE

Na Redação da revista literária "Granta", em Londres, um quadro exibia em setembro passado a lista de autores da edição batizada "Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros", cuja versão em inglês será lançada na semana que vem no Reino Unido e nos EUA.

Em meio a informações sobre a edição, foi desenhado um coraçãozinho vermelho ao lado de dois nomes: Daniel Galera e Michel Laub.

A cantada literária, que a reportagem descobriria ser obra da assistente editorial Yuka Igarashi, encontrou eco.

Numa enquete informal feita pela Folha com os funcionários da revista, Galera foi o mais citado como preferido entre os 20 escritores de até 40 anos da edição.

O texto do autor publicado pela "Granta" ("Apneia", ou "Apnoea", em inglês) -um encontro amargurado em que o pai avisa ao filho que vai se matar no dia seguinte- é o primeiro capítulo do novo livro de Galera, "Barba Ensopada de Sangue", que chega às livrarias brasileiras neste sábado.

FRISSON PROMOCIONAL

Poucos romances na história recente da literatura brasileira tiveram seu lançamento precedido por tamanho frisson promocional.

Isto ocorre em parte pela grife da "Granta". Deve-se também ao fato de que, antes de sair no Brasil, o livro foi vendido para cinco países: EUA, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Itália.

E é fruto da aposta alta que a sua editora, a Companhia das Letras, faz no romance.

Fato raro, a casa pediu a escritores e críticos que lessem o original. O exemplar enviado à imprensa trazia elogios de Ricardo Piglia, Gonçalo M. Tavares e Francisco Bosco.

Como já fez com outros títulos, o produtor Rodrigo Teixeira comprou os direitos de adaptação de "Barba..." para o cinema antes de o livro começar a ser escrito e, na semana passada, informou que o diretor Karim Aïnouz deverá comandar a adaptação.

Destoando da euforia, o crítico Alfredo Monte avaliou que, em "Barba...", Galera sucumbe "a uma caricatura do romance de fôlego".

O fato é que a maré está a favor de Galera. Aos 33 anos, ele desponta como o jovem autor nacional mais bem posicionado no mercado estrangeiro. Incluindo as cinco futuras traduções de "Barba", serão 11 edições de obras suas no exterior.

Uma das mais respeitadas editoras europeias, a alemã Suhrkamp foi uma das que compraram os direitos de publicar "Barba...". Seu editor Frank Wegner cita a ascensão do Brasil no cenário global como indutora da aposta. Mas ressalta que a editora já estava de olho em Galera e que considerou "Barba..." um "grande livro".

ISOLAMENTO

"Barba..." é o sexto livro de Galera, o quarto romance.

Narra a história de um professor de educação física que, após o suicídio do pai, se instala na praia de Garopaba, em Santa Catarina, em busca de isolamento. Foge de um revés amoroso -a namorada o trocou pelo irmão dele- e tenta desvendar a morte do avô, assassinado ali anos antes.

Ao longo das 424 páginas, surgem sobejos narrativos, mas o romance cativa por uma voz autoral refinada, pela tensão intermitente, pela construção detalhista de cenas, diálogos e personagens e pela tessitura sensível das tramas familiares e amorosas.

Dica ao leitor: alcançado o ponto final, vale reler o prólogo, que só então poderá ser totalmente compreendido.

O livro se passa em 2008, ano em que Galera se isolou na mesma Garopaba para, segundo diz, concretizar um velho sonho de morar onde não conhecesse ninguém.

Assim como o protagonista inominado, Galera alugou um apartamento à beira-mar.

Começou lá a conceber "Barba...", em torno da história que ouvira de seu pai sobre um sujeito encrenqueiro que fora morto por todos e por ninguém num baile em Garopaba -as luzes se apagaram, e, ao serem reacesas, havia uma poça de sangue no chão.

SEMELHANÇAS

As várias semelhanças com o protagonista -a mesma idade, ambos nadadores, loucos por games etc.- são um tema que irrita o escritor. "É limitado procurar provas de que aquilo é a vida do autor. Se fosse, não seria ficção. Parece horóscopo: quem quiser acha acertos ali, mas há mais desacertos."

Para ele, o ponto central do romance é "mostrar como histórias míticas podem vir de casos anônimos, que ganham contornos épicos por meio da narrativa -o que se perdeu na vida urbana moderna".

Depois de "Mãos de Cavalo", romance de 2004 pelo qual passou a ser mais respeitado, Galera embarcou em duas experiências. A primeira com o romance "Cordilheira", encomenda do projeto "Amores Expressos". Depois veio a graphic novel "Cachalote", em pareceria com o ilustrador Rafael Coutinho.

"Barba..." é, na visão do autor, uma volta ao Galera de "Mãos de Cavalo". "Retorno com força total ao que seria a minha própria voz", define.

Numa tarde ensolarada em Porto Alegre, cidade onde viveu a maior parte da vida, Galera comenta o que pode mudar em sua vida a partir da publicação do romance.

"Aumenta minha possibilidade de viver somente como escritor", empolga-se. "Mas tenho de preservar meu processo criativo. [A projeção] Não pode mudar em nada o que escrevo."


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