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Crítica coletânea

'Granta' exporta literatura atual brasileira

Traduções cuidadosas compõem edição em inglês dos textos de 20 jovens escritores selecionados pela publicação

São traduções cuidadosas, entre as tradicionais, em que era frequente a negligência, e as que John Gledson fez de Machado de Assis, que primam por detalhes históricos e estilísticos

WALTER CARLOS COSTA ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar de acompanhada de perto pela universidade, a literatura brasileira atual está pouco presente na mídia, cujos suplementos literários do passado deram lugar a cadernos de variedades. Se a literatura brasileira pesa pouco no país hoje, no exterior ela é quase inexistente, salvo por um ou outro best-seller.

Há um descompasso entre o prestígio crescente de certos autores junto à crítica internacional e a circulação precária de obras literárias brasileiras. No entanto, o apagamento literário na cena internacional, motivo de antiga e justa queixa de brasilianistas e escritores, parece estar começando a acabar.

A notícia do momento é o lançamento do número 121 da revista trimestral britânica "Granta", intitulado "The Best of Young Brazilian Novelists". É a primeira vez que a revista, fundada por um grupo de estudantes de Cambridge em 1889, dedica um número à literatura brasileira.

Até recentemente, traduções da literatura brasileira para o inglês, com exceções de praxe, mostravam pouca preocupação com qualidade literária ou precisão etnográfica. Nesta "Granta", chama a atenção o tratamento dado à tradução. O texto recebeu tratamento semelhante ao original na edição brasileira.

O resultado são traduções cuidadosas, entre as tradicionais, em que era frequente a negligência, e as que John Gledson fez de Machado de Assis, que primam pelos detalhes históricos e estilísticos.

A ordem dos autores não segue critério alfabético ou cronológico e é diferente da edição brasileira, a não ser no autor da abertura, Michel Laub, provavelmente considerado o mais representativo. A edição se encerra com outro conhecido, Daniel Galera, enquanto que, na edição brasileira, o lugar é de Tatiana Salem Levy.

Na edição inglesa houve mudança na escolha de contos de seis entre os 20 autores, talvez para adequar os textos ao público internacional.

O prefácio, que explica em detalhe o processo de seleção dos autores, não diz nada sobre a seleção de tradutores, que não aparecem no sumário, embora tenham destaque em cada conto. No final da revista, há minibiografias de todos, cujos perfis são diversificados como o dos autores.

Previsivelmente, a maioria traduz não só do português, brasileiro e lusitano, mas também do espanhol e outras línguas. Isso indica que o grau de especialização dos tradutores de literatura brasileira para o inglês dista muito do exibido por tradutores exemplares, como o holandês August Willemsen ou o alemão Berthold Zilly, cujo conhecimento rivaliza com o dos especialistas nacionais.

Entre os 15 tradutores, há professores universitários, escritores, jovens e veteranos da tradução.

Um exame do texto revela que essa disparidade de formação e experiência foi aplainada pela preparação de texto, diminuindo as eventuais diferenças de conhecimento e habilidade.

A tradução é idiomática, com o consequente aumento da massa textual, como exemplifica o título "Aquele Vento na Praça", de Laura Erber, traduzido por "That Wind Blowing through the Plaza".

Muitas palavras que remetem a coisas típicas da cultura brasileira foram traduzidas de modo a não causar estranheza: "comemos bauru" vira "we ate cheese and roast beef sandwich".

Na mesma linha, expressões coloquiais como "ceva" foram substituídas por equivalentes não marcados, no caso, por "beer". Essas opções percorrem, de forma mais ou menos homogênea, todos os textos da revista.

O fato de o cenário dos contos ser a vida urbana de classe média no Brasil (e, em alguns casos, no exterior) facilita a adoção de uma linguagem comum em toda a revista. Como diz o prefácio da edição, os autores são "filhos e filhas de uma nação que é mais próspera e aberta; eles são, ao mesmo tempo, cidadãos do mundo e brasileiros".

O leitor estrangeiro é assim convidado a descobrir, por meio desses autores, uma literatura moderna e exportável que, como diz o prefácio da edição brasileira, "entra gradualmente na literatura mundial".

Walter Carlos Costa é professor da Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.

THE BEST OF YOUNG BRAZILIAN NOVELISTS
EDITORA Granta
QUANTO £12,99 (cerca de R$ 43; 272 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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