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Mostra mergulha na interface entre arte e ação política de Boal

Dramaturgo e diretor foi articulador fundamental na criação do Teatro de Arena em São Paulo

Sob cuidado da UFRJ, boa parte do acervo do autor, com vídeos, fotografias e textos, permanece encaixotado

DE SÃO PAULO

A curadoria da mostra "Pompeia conta Boal" se debruça sobre a obra de um pensador que se dedicou à criação de uma interface entre arte e o debate político.

A trajetória de Augusto Boal começa no Teatro de Arena nos anos 1960, depois de o artista ter se formado em química pela UFRJ e ter partido para os Estados Unidos, onde cursou teatro na Universidade de Columbia, em Nova York.

Ao lado do diretor José Renato e dos dramaturgos Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho, Boal consolidou no Teatro de Arena, no centro de São Paulo, um dos momentos mais interessante do teatro paulistano.

O realismo era uma estética padronizada nos palcos de São Paulo e do Rio de Janeiro, com vasto campo de pesquisa exercido pelo próprio Arena e pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). É desta época, por exemplo, a peça "Eles Não Usam Black-Tie", de Guarnieri (1958).

O Teatro de Arena principia um desvio para o teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956), algo que contagiou um cenário efervescente fomentado pelos movimentos estudantis, incluindo a pesquisa de Zé Celso no Teatro Oficina.

Nesse desvio de rota, Boal escreve "Revolução na América do Sul" (1960) -texto que será lido hoje pela Cia. do Latão. Influenciado por Brecht, ele fez uma farsa musical. Nela, conta a história de um operário faminto, José da Silva, que enfrenta o descaso político em seu percurso trágico.

A partir deste momento, "Boal influenciou toda a cultura dos anos 1960", conta Sérgio de Carvalho. "Ele formula um campo interessante entre arte e política. É algo atual e que dialoga com as gerações de hoje, mas que aqui ainda enfrenta um provincianismo cultural enorme", diz.

Durante o período de repressão militar, houve ainda a migração de atores e dramaturgos para a TV. O ator Lima Duarte e o dramaturgo Benedito Ruy Barbosa, que trabalharam com Boal, são exemplos dessa transição.

Na mostra, o primeiro estará presente na leitura de livro autobiográfico de Boal (dia 23). O segundo participa de palestra sobre a dramaturgia do Arena (dia 15).

ACERVO

Ao tentar entender o descompasso entre as repercussões de Boal no Brasil e no exterior, Sérgio reclama da violência com que a ditadura interrompeu um período fértil nas artes. "Parte da obra mais importante de Boal foi feita no exílio", diz.

A dimensão internacional desse legado foi o que motivou a Universidade de Nova York a disputar o acervo do artista, com 20 mil textos, 2.000 fotografias e 300 horas de vídeo, em um episódio que causou polêmica em 2010.

Após protestos de artistas e teóricos em solo nacional, a viúva de Boal acabou doando o acervo à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A decisão seguiu um acordo entre o governo e a UFRJ. O Ministério da Educação destinaria uma verba para o acervo ser tratado. O montante até hoje não foi repassado.

Segundo a assessoria de imprensa do MEC, a demora aconteceu porque a UFRJ ainda não apresentou um projeto. Eleonora Camenietzki, diretora da Faculdade de Letras da universidade, diz que as coisas por lá "são lentas".

O MEC diz que os 5 milhões previstos para instalação e tratamento do acervo estão previstos para 2013. (GF)


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