Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Eventos marcam 90 anos de Saramago

Viúva Pilar del Río defende importância de obra e valores do autor português "em tempos de distintas cegueiras"

Fundação decreta 16 de novembro como o "Dia do Desassossego"; Lisboa e São Paulo comemoram a data

TRAJANO PONTES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Que não deixem de ler José Saramago, porque, ao lê-lo, crescemos em sabedoria. Ele dizia que os livros carregam dentro deles uma pessoa, que é o autor. Acariciemos o autor acariciando seus livros. Somos seres de palavras, festejemos quem nos deu palavras tão belas agora que completa 90 anos."

Esse foi o pedido de Pilar del Río, 62, em entrevista concedida à Folha por e-mail.

O Nobel português faleceu em junho de 2010. Desde então, sua viúva, à frente da Fundação José Saramago, defende os ideais compartilhados pelo casal. Valores que eram conhecidos publicamente e que extravasavam da literatura para a sociedade.

"Consideramos indispensável que governos e cidadãos apliquem-se a fundo para fazer do mundo algo mais que um lugar agradável para uns poucos e um inferno para a maioria", defende.

Este 16 de novembro, data em que Saramago completaria 90 anos, foi decretado pela fundação presidida por Pilar como o "Dia do Desassossego", celebrado em Lisboa e São Paulo.

"Porque Saramago dizia que escrevia para desassossegar", explica, tomando emprestada a palavra ligada ao poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), autor de "Livro do Desassossego" (Companhia das Letras).

Não faltam motivos de inquietação para a jornalista espanhola que obteve a cidadania portuguesa em 2010.

É em Lisboa que ela vive e de lá comanda a instituição. "Ser cidadã portuguesa não mudou a percepção que tenho do país. Simplesmente obriga-me a pagar aqui os impostos e a estar mais ativa no dia a dia. E, como voto em Portugal, exijo em Portugal."

Pilar diz que retorna frequentemente ao país natal, onde mantém a casa em que o casal viveu aberta ao público porque não lhe pareceu generoso conservar para si a vida cotidiana de Saramago.

E, de suas visitas, forma uma opinião. "A Espanha está mal governada porque instâncias não eleitas impõem cortes de direitos sociais. Fracasso tremendo numa sociedade que tinha como objetivo o pleno emprego e o estado de bem-estar."

Pilar acredita na permanência da obra e dos valores do marido. Mencionando os "Ensaios" (sobre a morte e a lucidez), ela diz: "Diariamente, analistas e pensadores do mundo recorrem a Saramago para explicar as distintas cegueiras de nossas sociedades e a necessidade de reforçar o sistema democrático para que especuladores não reduzam à miséria setores da população cada vez maiores".

Ela pensa que o tempo não virá mal. "A distância nos dará a dimensão de Saramago: agora, nós o temos tão próximo, era uma pessoa tão simples, que, às vezes, tem-se a tentação de pensar que esse homem era mais um", diz.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página