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Poeta gaúcha analisa mulher sem piedade

Segundo livro encara preconceitos velados e elogios, escrutinando hábitos e medos

RODRIGO LEVINO EDITOR-ASSISTENTE DA “ILUSTRADA”

Quando a gaúcha Angélica Freitas, 39, começou a escrever uma série de poemas sobre mulheres, o seu objetivo era testar o próprio repertório de ideias, preconceitos, vocabulários e toda a sua limitação como poeta.

Dessa experimentação surgiu "Um Útero é do Tamanho de um Punho", lançado recentemente pela editora Cosac Naify.

Ao longo de 37 poemas, Freitas faz, com verve e lirismo, gato e sapato da figura feminina.

A autora provoca ("uma mulher gorda \ incomoda muita gente \ uma mulher gorda e bêbada \ incomoda muito mais"), mas também enternece ("então embrulha \ tua taquicardia \ num sorvete de amêndoas") e, sobretudo, tece uma ode (às vezes enviesada) à figura feminina.

"As pessoas perguntam se não tenho medo de ficar associada ao tema. Não tenho. O livro nasceu de uma inquietação. Se precisar, voltarei ao assunto", diz em entrevista à Folha, de Pelotas (a 250 km de Porto Alegre), onde vive.

"Um Útero" é o seu segundo livro, que segue agora pela estrada aberta por "Rilke Shake", de 2007, também da Cosac. A obra de estreia levou-a mais longe do que ela esperava.

"Não acho 'cool' ser poeta. Na verdade, acho até patético", diz ela, que, mesmo assim, atende feliz aos convites para ler os versos que escreve. Nesse embalo, já foi a três continentes.

CENA E VIAGENS

Autointitulada "bicho do mato", Angélica Freitas é parte do que se convencionou chamar de "Estética do Frio", um movimento artístico e literário nascido na região sul do país.

Também estão nessa patota o escritor Vitor Ramil e o quadrinista Odyr Bernardes, com quem ela finaliza um romance gráfico.

Quando estende o olhar para a produção atual de poesia no Brasil, ela menciona ter dificuldade de se enxergar como parte de uma cena. Mas ela diz que isso não a preocupa e que o que importa mesmo é escrever.

Sobre "Um Útero", por exemplo, Freitas conta ter enchido dois cadernos universitários, mais umas folhas soltas. "Depois cortei quase tudo, e reescrevi alguns versos dos que restaram".

Nesse conjunto, a mulher é submetida a preconceitos velados e elogios, além de ter os hábitos e medos analisados de forma impiedosa.

Isso acontece à expectativa da sociedade a respeito do que seria uma mulher justa, limpa e de bons hábitos ("acabou de passar / a mulher de um homem só"), que é ironizada e tratada causticamente pela poeta.

A despeito do que dizia W.H. Auden (1907-1973), no sentido de que a poesia nada faz acontecer, do mercado alegadamente restrito e do preconceito com que às vezes se encaram poetas de rua, blogs de poesia e seus leitores, Angélica Freitas cita o conterrâneo Nei Lisboa: "Tudo é caminho, deixa o bicho \ Tudo é vontade de acertar".

É também nessa toada que seguem as mulheres de "Um Útero".


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