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Coletivo chileno traduz poesia utópica em obras arquitetônicas

Ciudad Abierta, que está na Bienal de São Paulo, elabora projetos para favelas paulistanas

Grupo fez instalação no Ibirapuera e desenhou estruturas para um parque infantil na favela de Heliópolis

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

"Na América, é preciso atravessar, romper distâncias como se tentando ouvir um verso." Salvador Zahr, um dos fundadores do Ciudad Abierta, resume nesse tom épico o que o coletivo de artistas e arquitetos chilenos faz agora no Brasil, país que "atravessa" por conta da Bienal de São Paulo, que vai até dezembro.

Fundado nos anos 1950 em Valparaíso, a Ciudad Abierta que dá nome ao grupo é um vilarejo no Chile em que arquitetos, poetas, músicos e médicos tentam fincar as bases de uma arquitetura sem regras, moldada pela poesia.

Em São Paulo, o grupo quer agora tirar do papel uma obra desse tipo projetada para a favela de Heliópolis.

Eles querem construir uma série de módulos de madeira que vão envolver um parque infantil, um lugar de encontro da comunidade, mas ainda não conseguiram autorização para as obras.

"Desejamos criar algo onde possam surgir coisas novas", diz Zahr. "Vimos uma beleza espacial alucinante em Heliópolis, mesmo com os problemas que eles enfrentam ali."

Essa tal "beleza alucinante" casa com os versos poéticos que o grupo usa como base de pesquisas espaciais e pode ser vista numa instalação no pavilhão da Bienal: a ideia de "travessia do espaço rumo a um mar interior".

"É uma arquitetura trêmula, dúbia, embrionária, e essa é a sua força", diz Zahr. "Não é uma linguagem com o dever de obedecer a uma estética. É olhar para o mundo com um sentido poético."

Tudo começou quando um grupo de arquitetos comprou terrenos ao norte de Valparaíso e lá começou a construir obras sem fachada, de função indefinida, e criou programas construtivos flexíveis.

Poesia à parte, é uma estética de formas abertas e amplas, construções que parecem fundidas ao ambiente ao redor, fluidas e permeáveis.

PÉS DESCALÇOS

No primeiro dia da passagem por São Paulo, o grupo recitou, todos descalços no teatro do Sesc Pompeia, uma espécie de manifesto fundador do grupo, que um dos arquitetos resume como mistura de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, com o "Na Estrada", de Jack Kerouac.

Eles alternaram as vozes no palco, gritando palavras de ordem pela paz e contra a violência. Foi, ao mesmo tempo, um ato de repúdio ao totalitarismo e uma exaltação da poesia -em suma, um espetáculo de pegada hippie em pleno século 21.

"É uma utopia, mas ao mesmo tempo é real", diz Zahr. "Não é a forma que segue a função, mas uma arquitetura fundada na poesia." Ilustrando o conceito com outra imagem, Manuel Sanfuentes, outro arquiteto do grupo, compara as propostas construtivas do Ciudad Abierta a pisar num solo instável.

"Pensamos um lugar em que a arquitetura possa trabalhar a poesia, uma areia em que, no dia seguinte, não ficam pegadas, tudo se reconstrói", diz. "Cada cidade precisa de um poeta, alguém que dê o tom e tome o pulso do lugar: o portador da festa."


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