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Mostras de foto reveem imagem do país

Exposições exibem história da fotografia nacional e destacam revolução no fotojornalismo na revista 'O Cruzeiro'

Instituto Tomie Ohtake tem mais de 400 fotos, do século 19 até 2003, e Instituto Moreira Salles narra história da revista

Divulgação
Fotografia de José Medeiros em reportagem sobre o Alto Xingu publicada na revista 'O Cruzeiro', agora no Moreira Salles
Fotografia de José Medeiros em reportagem sobre o Alto Xingu publicada na revista 'O Cruzeiro', agora no Moreira Salles
SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Duas fotografias se repetem em mostras que entram em cartaz agora em São Paulo. Uma delas é um retrato de um índio diante de um avião numa aldeia do Alto Xingu. Outra é o rosto esfuziante de Carmen Miranda, com enormes brincos de pérolas e já famosa em Hollywood.

São dois pontos no espectro do imaginário popular que correspondem à imagem do país. Da mesma forma que a mostra no Instituto Tomie Ohtake revê a produção fotográfica nacional desde o século 19, o recorte que o Instituto Moreira Salles abre hoje destaca a revolução no fotojornalismo no Brasil deflagrada pela revista "O Cruzeiro".

Um elo entre as duas mostras é, de fato, a revista. Jean Manzon, francês que se radicou no Brasil assumindo a direção de fotografia de "O Cruzeiro", é o autor do retrato de Carmen Miranda. E José Medeiros, que documentou o Xingu, também trabalhou lá.

Por mais que a mostra do IMS centre o foco na modernização da linguagem fotojornalística, com a evolução da imagem singular para a ideia de narrativa fotográfica em voga em revistas como "Paris Match", "Vu" e "Life", é impossível desassociar sua leitura do contexto mais amplo que está no Tomie Ohtake.

DO EXOTISMO AO CRIME

Em cerca de 400 imagens, os curadores Boris Kossoy e Lilia Moritz Schwarcz traçam um painel vertiginoso da fotografia nacional, dos "retratos de tipos de pretos", em que fotógrafos europeus registravam escravos com viés exótico à guisa de cartões-postais do Novo Mundo, a imagens icônicas da era Vargas, a ditadura militar, a redemocratização e a era Lula.

"No século 19, uma mentalidade racista era impulsionada pelas teorias pseudocientíficas em voga na época", diz Kossoy. "Mas depois a voltagem muda. Se num dado momento existe esse exotismo, no século 20 a fotografia já não foca o índio ou o negro. É o Carnaval, a violência, a criminalidade, uma série de outros fatores marcantes."

De fato, é a ideologia vigente em cada momento que molda esses registros do país. Cenas de casa grande e senzala vão cedendo lugar a imagens de uma urbanização acelerada e mais tarde das convulsões políticas no Brasil.

Na Revolução de 1932, a "Gazeta" trazia na capa uma montagem com um punho rasgando a folha de jornal sob a manchete "Ditadura".

Já no regime militar, Brasília é vista sob nuvens negras em imagens de Kossoy, e o Rio aparece abalado por conflitos de rua -uma foto de Evandro Teixeira mostra só os coturnos num plano elevado, acima da multidão.

"A imagem fotográfica começou a se tornar uma referência muito forte de registro neutro, objetivo, embora não tenha nada de neutro ou objetivo", afirma Kossoy. "Não se trata de imagens que valem mais do que mil palavras. São imagens que nunca dispensam seus contextos. Isso ocorre de ponta a ponta."


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