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'Filme de sucesso traumatiza', diz Coutinho

Mostra de Cinema e Direitos Humanos exibe filmes do cineasta, que dá palestra hoje sobre longa inacabado

Eduardo Coutinho fala de medo de avião, de cigarros e do sucesso paralisante de "Cabra Marcado para Morrer"

FABIO BRISOLLA DO RIO

Eduardo Coutinho estava acordado havia pouco mais de uma hora. Sentou-se no café, às 14h30, numa esquina da rua Jardim Botânico, na zona sul do Rio de Janeiro, e lamentou ter marcado a entrevista com a Folha.

Disse ter aceito a conversa apenas porque foi convencido pela assessoria da 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul.

Hoje, dentro da programação da mostra, o diretor de 79 anos participa de debate sobre sua obra, que inclui documentários premiados como "Cabra Marcado Para Morrer" (1984), "Santo Forte" (1999), "Edifício Master" (2002) e "Peões" (2004).

O encontro com o cineasta será na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.

Coutinho começou a entrevista dizendo que estava de mau humor, mas falou durante uma hora e meia, período em que fumou 11 cigarros. Ele sabe que precisa parar, mas diz que continua "por teimosia, mesmo".

Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha.

Folha - Na mostra, o sr. falará sobre um filme que está pronto, mas é classificado como inacabado. Como assim?
Eduardo Coutinho - O título é "Um Dia na Vida", mas considero inacabado porque ele não pode ser exibido comercialmente por questões de direitos autorais. Não tem uma história. Registrei a programação da TV aberta durante 19 horas seguidas no dia 2 de outubro de 2009, em uma sala com oito monitores, cada um sintonizado num canal diferente. Fui gravando direto, sempre um programa por vez. Depois editei até chegar a 1h30 de duração.

Qual foi o critério de seleção das cenas?
Procurava um programa que fosse muito bom ou muito ridículo ou muito louco. O "Chaves" é um bom exemplo, uma obra-prima. Um seriado mexicano em cartaz há 30 anos, e o Silvio Santos ganha dinheiro com esse troço até hoje. Tem um mistério nisso.

O difícil é ganhar dinheiro com documentário?
Ninguém ganha. Além disso, os meus filmes me trazem um problema: sou obrigado a viajar para falar em palestras, o que é uma merda, porque odeio avião.
Fui a Nova York convidado por um festival que exibiu alguns de meus filmes, mas não teve debate. Fiquei puto, perdi a viagem.

Não aproveitou Nova York?
Sabia que não se pode fumar no Central Park? Não é uma cidade civilizada. É um lugar de esquizofrênicos. Não há como matar uma criancinha fumando no Central
Park. Só se eu soprasse fumaça dentro do nariz dela.

Não pensa em parar de fumar?
Todo mundo diz que tenho de largar. Também acho. Mas não vou por teimosia.

O documentário "Cabra Marcado para Morrer" (1984) foi restaurado para ser lançado em DVD. É o filme mais importante de sua carreira?
Um filme de muito sucesso, seja de crítica ou público, é um troço que traumatiza. O que fazer depois?

Como lidou com o impasse?
Depois do sucesso de "Cabra", a vida perdeu o sentido. Sentia que poderia morrer e ser lembrado como o sujeito que fez apenas um filme. Passei anos como freelancer, levando uma vida obscura. Até que tive a coragem, a ideia, tomei um porre, sei lá... E fiz "Santo Forte" (1999).

Um retorno aclamado...
Mas, antes de fazer, me diziam que ninguém ia aguentar ver aquele monte de gente falando sem parar. Nos filmes seguintes, botei ainda mais palavras. O "Edifício Master" tem 1h50 de gente falando.

Pensa em fazer um novo documentário?
Tenho uma ideia, mas não posso falar qual. O tema de um documentário não tem a menor importância. Pode ser pasta de dente ou a vida de Jesus, é tudo igual. O problema é como fazer. Aí, sim, é complicado.

7ª MOSTRA CINEMA E DIREITOS HUMANOS - ENCONTRO COM EDUARDO COUTINHO
QUANDO hoje, às 15h
ONDE Cinemateca Brasileira (lg. Senador Raul Cardoso, 207; tel.: 0/xx/11/ 3512-6111)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO variada (www.cinedireitoshumanos.org.br)


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