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Mauricio Stycer

Shakespeare, roteirista da HBO

A HBO tem aparecido como parceira de produtores brasileiros em experiências com tempero nativo

"SE SHAKESPEARE vivesse hoje, escreveria para a HBO." A afirmação está no título de uma reportagem publicada há três semanas na seção "Vida & Artes" do diário espanhol "El País".

Ao longo do texto, diferentes críticos e estudiosos defendem a ideia de que programas como "Sopranos", "Mad Men", "The Wire" e mesmo "Homeland" habilitam os seriados de televisão a reivindicar o título de "oitava arte".

Homenageada no título da reportagem do jornal espanhol, a HBO é uma emissora conhecida pela qualidade das séries que exibe e produz -ainda que, falível como todas, não tenha se interessado, por exemplo, pelo projeto de "Mad Men".

Na comparação com um filme de longa-metragem, um conjunto de 12 episódios dispõe de muito mais tempo para desenvolver uma história e alguns personagens. Quase todas as séries de sucesso exploram o que um entrevistado do "El País" chama de "ambiguidade moral" dos personagens.

Don Draper e Tony Soprano são sempre citados como exemplos muito bem delineados de anti-heróis, tipos que cativam o espectador por oferecer diferentes possibilidades de leitura, com atitudes inesperadas, sempre transitando longe da linha reta.

A discussão sobre a qualidade dos seriados americanos é especialmente pertinente hoje, num momento em que a televisão brasileira passa por uma mudança na legislação que estimula a produção de conteúdo que se dá fora do âmbito das grandes emissoras.

Não à toa, a HBO tem aparecido como parceira de produtores brasileiros em algumas experiências com tempero nativo.

Uma de suas primeiras coproduções no país, associada à Conspiração, foi "Mandrake", inspirada num personagem e em histórias da obra de Rubem Fonseca, exibida em 2005 e 2007, num total de 13 episódios.

Advogado criminalista, especializado em extorsão, o sedutor Mandrake (Marcos Palmeira) retornou brevemente às telas, há duas semanas, em um telefilme de 180 minutos, dividido em duas partes, "O Robin Hood de Copacabana" e "A Investigação", dirigido por José Henrique Fonseca.

Ainda que bem realizado, o projeto me pareceu sem muito sentido. Mais com cara de piloto (programa introdutório) do que de continuação, o telefilme acrescentou pouca coisa ao espectador, apenas relembrando que Mandrake é um personagem que reúne características para um ótimo seriado.

Hoje, em associação com a O2, a HBO estreia a série "Destino São Paulo". Cada um dos seis episódios conta uma história ambientada em uma determinada comunidade de imigrantes radicados na cidade.

Assisti a três episódios. Dois deles, em chave cômica, exploram o chamado "choque cultural", provocado por um rapaz gay numa família judia e pelo sonho de comer carne de cachorro numa casa de coreanos. O terceiro, em tom dramático, apresenta a luta pela sobrevivência de um grupo de africanos no centro de São Paulo.

Vistos isoladamente, não são passíveis de reparos. Produção impecável, ótimo texto, excelente opção por atores pouco experientes ou não atores, direção segura: os programas oferecem entretenimento da melhor qualidade.

Não entendo bem, porém, o projeto. "Destino São Paulo" não explora um tema original, muito pelo contrário, nem se sustenta como uma série, mas como um mosaico de situações, uma espécie de cartão de visitas para um futuro seriado. Que venham programas mais ambiciosos, por favor.


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