Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica Ópera

Geometrias de luz interceptam formas sonoras em 'Macbeth'

Ópera de Verdi, em cartaz em SP, tem direção e cenografia de Bob Wilson

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

"A vida!...Que importa? É o conto de um pobre idiota, vento e som que não significam nada". Assim Giuseppe Verdi (1813-1901) e seus libretistas resumem a fala mais célebre escrita por William Shakespeare (1564-1616) para Macbeth, o assassino usurpador do trono escocês.

Estamos na terceira cena do ato final da ópera. Prestes a perecer em sua própria trama de horror e sangue, Macbeth acaba de saber do suicídio da mulher. O texto instrui o cantor a interpretar "con indifferenza e sprezzo" (com indiferença e desprezo).

Colhidos por Bob Wilson, que assina a montagem em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo, desprezo e indiferença se espalham em meio a desenhos de neon, rostos brancos e gestual que evoca o teatro Nô japonês (busca do máximo de significação com o mínimo de expressão).

Os cantores não se olham, olham para nós. Fazem da projeção vocal direta um elemento formal, um feixe sonoro traçado no espaço. Livre de naturalismos, entregam-se à escuta do maestro Abel Rocha.

Graças a Rocha e sua equipe, São Paulo se tornou -em pouco mais de um ano- a capital nacional da ópera. Fechando a trilogia Verdi iniciada em 2011, "Macbeth" é o ponto alto de uma temporada corajosa e original.

Se Shakespeare reprime Lady Macbeth e as bruxas para deixar o protagonista reinar em evidência, Verdi inverte a mão: sua Lady toma conta do drama, e a escolha da italiana Anna Pirozzi foi certeira em volume, timbre, agilidade e musicalidade.

Angelo Veccia foi um Macbeth seguro, um timbre que parece incorporar os contornos de neon de Bob Wilson. E o pequeno papel previsto para Banco -bem menor do que em Shakespeare- não impediu admirarmos a categoria do baixo Carlo Cigni.

A relação dos coros com a orquestra esteve instável no início, e os sopros davam mais peso do que exige a escrita ágil e precisa de Verdi.

Mas aos poucos tudo foi equilibrado, e na cena da floresta (na abertura do quarto ato) a performance transcendeu a técnica.

Há um vazio cosmológico por trás do horror sem propósito de "Macbeth". Freud (1856-1939) atribui à ausência de filhos, mas a tese não explica a tensão entre tempo, morte e natureza, sustentada com virtuosismo por Verdi.

Wilson constroi suas geometrias de luz a partir da música. Elas reagem a harmonias, intensidades e articulações, como a estranha linha de neon na base do palco. Direcionada ao público, ela sublinha e desloca as formas sonoras em movimento.

MACBETH

QUANDO amanhã e qui., às 20h

ONDE Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº; tel. 0/xx/11/3397-0327)

QUANTO de R$ 40 a R$ 100

AVALIAÇÃO ótimo


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página