Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Marighella inspira canção de protesto

Guerrilheiro morto em 1969 é biografado em tons épicos em rap de oito minutos que evoca o "fim da canção"

Nos anos 60, guerrilha armada pediu "apoio logístico" a Caetano Veloso, que foi preso e exilado logo depois

Patrícia stavis/Folhapress
Caetano posa para foto anteontem em SP
Caetano posa para foto anteontem em SP
DO EDITOR DA “ILUSTRÍSSIMA”

Se a violência de "Abraçaço" é estética e amorosa, não poderia deixar de ser também política. Sua faixa mais longa, "Um Comunista", biografa em tom épico o guerrilheiro urbano Carlos Marighella na forma de rap. Ou, na definição do autor, "canção de protesto de classe média".

"Parece canção francesa sobre política, tem muito da tradicional canção de protesto, essa longura, esse tom narrativo e explicativo, embora seja mais complexa do que isso", diz o compositor na entrevista à Folha.

A relação entre rap e canção de protesto traz para o disco a discussão sobre "o fim da canção" iniciada por Chico Buarque em entrevista à Folha, em 2006: "O Chico e o José Ramos Tinhorão coincidiram em dizer que o rap era a verdadeira canção de protesto, porque era dita por eles mesmos [as classes baixas]."

Caetano não chegou a conhecer Marighella, mas teve contato indireto com ele por meio de uma colega, Lourdinha, que militou com Marighella e foi presa.

"Ela causou uma impressão forte no [delegado do DOPS Sérgio] Fleury, que era o torturador. Ele se refere a ela como "caso mais impressionante de resistência à tortura", lembra ele.

Lourdinha pediu a Caetano que desse "apoio logístico à guerrilha de Marighella". "Eu fiquei mais ou menos inclinado a talvez fazer isso, se me fosse possível, se soubesse como, porque eu o admirava, mas eu temia, possivelmente não chegaria a fazer."

"Fui preso pouco tempo depois. Só se sabe disso hoje, na época só sabíamos disso a Lourdinha e eu."

A letra narra o episódio em que mandou um recado do exílio para o Brasil, quando soube da morte do guerrilheiro numa emboscada armada por Fleury, em 1969.

Ele e Gilberto Gil apareceram na capa de uma revista, dizendo "nós estamos mortos, ele está mais vivo do que nós". Na mesma época, enviou ao jornal "Pasquim" um texto sobre Marighella.

Caetano diz que, na época, ninguém no Brasil entendeu que a tristeza que expressava no texto não era apenas a tristeza do exílio, mas uma referência à morte de Marighella.

Talvez porque a tristeza seja uma constante em sua vida e obra, especialmente nos últimos anos. "Estou triste", a terceira faixa, soa como a mais triste de todas as canções melancólicas da trilogia.

"É mais um negócio desse período da minha vida, mas eu conheço tristeza desde sempre", disse ele, sobre a letra que diz que "O lugar mais frio do Rio/ é o meu quarto".

(PAULO WERNECK)


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página