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Crítica Ópera

'O Rouxinol' seduz pela beleza visual

Com recursos cênicos sofisticados, ópera vivifica história criada por Hans Christian Andersen

Há em "O Rouxinol" um salto em termos de ilusão. A mentirinha da ficção se torna verdade pela delicadeza altamente convincente dos recursos cênicos utilizados

JOÃO BATISTA NATALI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em termos literários, "O Rouxinol e o Imperador da China", do dinamarquês Hans Christian Andersen, é um conto maravilhoso, faz referência a suas raízes populares e tem enredo mágico.

O mesmo vale para a ópera baseada na história, que o compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) estreou em Paris, em 1914.

A montagem de "O Rouxinol", que estreia hoje no Theatro Municipal de São Paulo, também é maravilhosa, mas por uma simples questão de beleza plástica dos cenários e figurinos.

Também merecem o adjetivo a voz da soprano russa Olga Trifonova, no papel título, e a direção musical de uma partitura sem balizas melódicas que possam facilitar o trabalho da Orquestra Experimental de Repertório e do maestro Jamil Maluf.

Stravinsky concluiu sua ópera depois de "O Pássaro de Fogo" e "A Sagração da Primavera". Tornou-se mais ousado. A orquestra para ele era, então, mais madeiras e percussão e menos cordas (violinos ou violoncelos).

A soprano que faz o Rouxinol canta a cada entrada uma nova melodia, que nem sempre é tonal. Há, assim, um outro grau de exigência.

Tudo deu certo na montagem. Mas ela mereceria uma temporada mais longa. Serão apenas quatro récitas, a última na segunda-feira (10), depois de amanhã. Hoje serão duas, às 16h (com a brasileira Caroline de Comi, como Rouxinol) e às 20h.

A ópera, interpretada em russo mas com supertítulos em português, conta a história de um desses pássaros de canto mitológico, convidado por um pescador, por uma cozinheira e por cortesãos a se apresentar diante do imperador da China. Mas este, fascinado pelo que ouve, recebe ao mesmo tempo de presente do imperador do Japão um rouxinol mecânico.

O rouxinol de verdade retorna à floresta e só volta a se aproximar do palácio quando o imperador, desmotivado e deprimido, está para morrer. O canto do pássaro verdadeiro, de carne e osso, consegue revitalizá-lo.

Uma das maneiras de interpretar o conto está na superioridade daquilo que é natural, o pássaro, sobre aquilo que é artificial, uma máquina de faz de conta. O problema está em visualizar tudo isso com competência, com muita poesia.

É onde entra a exatidão do trabalho da diretora cênica Lívia Sebag e, sobretudo, de Fernando Anhê, responsável pelos figurinos e cenários.

Anhê já havia sido responsável pela concepção de "João e Maria", de Humperdinck, e de "O Menino e os Sortilégios", de Ravel, dois outros enredos infantis, regidos em cena por Jamil Maluf.

Há em "O Rouxinol" um salto em termos de ilusão. A mentirinha da ficção se torna verdade pela delicadeza altamente convincente dos recursos cênicos utilizados.

No primeiro ato, por exemplo, o pescador e seu barco flutuam acima do palco, enquanto o movimento de uma tela pouco iluminada, ao chão, faz as vezes das águas.

Uma projeção ao fundo, de um azul-esverdeado meio abstrato, demonstra que estamos submersos no mar, assim identificado pelos cardumes, que, por animação gráfica, mexem-se apressados e de modo aleatório.

O imperador tem seu trono no centro do palco. Mas ele se torna majestático por meio de uma espécie de figura de simetria levemente oriental, que flutua, imensa, sobre a sua pessoa.

Na cena da floresta, antes da aparição do rouxinol, surgem ao fundo figuras quase antropomórficas que oscilam coladas em três telas transparentes que se mexem, paralelas e distantes umas das outras. Não haveria um exemplo melhor para definir o que poderia ser uma ópera em terceira dimensão.


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