Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica jornalismo

Trabalho na imprensa rendeu textos e entrevistas antológicos

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

"Mineirinho é meu erro. E de uma vida o que se salva é apenas o erro." "Nós, os sonsos essenciais." Palavras de Clarice Lispector para a revista "Senhor", em 1962, ao comentar o assassinato de Mineirinho, um criminoso, com 12 tiros.

Mineirinho, nessa narrativa iluminada e iluminadora, é o outro que nos habita. Ele é nosso erro; nós, sonsos para que nossas estruturas não afundem.

E é assumindo -mesmo que sob disfarces- essa alteridade do humano que a jornalista Clarice Lispector escreve sobre moda, sedução e baratas.

Antes de se tornar conhecida, a autora trabalhou em jornais e revistas, oculta sob os pseudônimos de Helen Palmer e Teresa Quadros. O livro "Clarice na Cabeceira - Jornalismo" reúne crônicas, entrevistas e matérias femininas, ao longo de mais de 30 anos.

Com o nome de Helen Palmer, por exemplo, Clarice recomendava às mulheres elegantes que não comessem chocolate na frente dos outros, não rissem em voz alta e que não se fizessem de vítimas, pois isso "envelhece, rouba o brilho dos olhos" e desagrada aos homens.

Como deve ter sofrido -ou quem sabe se divertido- a mulher por trás do nome falso, que já em 1940 defendia que as mulheres tivessem direitos iguais e que, em sua obra, falou em nome das mulheres oprimidas pelo casamento e pela submissão.

Mesmo assim, nessa voz que dá dicas para matar baratas, pode-se ouvir "A Paixão Segundo G.H." e "A Quinta Morte", ambas narrativas envolvendo os insetos.

Como não ouvir Clarice numa receita assim: "O gesso endurece lá dentro delas, o que provoca morte certa. Na manhã seguinte dezenas de baratas duras enfeitarão como estátuas a vossa cozinha, madame".

Essa barata, esse outro, aparece também nas entrevistas, especialmente na antológica entrevista com Tom Jobim, de quem só ela conseguiria extrair "que não existe o eu nem o euzinho nem o euzão". "A morte não existe, Clarice."

NOEMI JAFFE é doutora em literatura e autora de "A Verdadeira História do Alfabeto" (Companhia das Letras)


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página