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'Gilda foi cria da USP, de Mário e de 'Clima'', diz Candido

Em abertura de biblioteca que homenageia sua mulher, crítico elencou "forças motrizes" do pensamento dela

Intelectuais como Paulo Arantes, Roberto Schwarz e Giannotti lotaram centro cultural na rua Maria Antônia

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

A sala do Centro Universitário Maria Antonia não tinha cadeiras vagas quando Antonio Candido começou a falar.

Aos 94 anos, o maior crítico literário brasileiro não tem feito muitas atividades públicas, e voltava ao prédio onde lecionou durante décadas por um motivo especial, a abertura de uma biblioteca em homenagem à mulher com quem foi casado durante mais de 60 anos.

A inauguração da Biblioteca Gilda de Mello e Souza, na noite de quinta-feira, reuniu uma amostra impressionante do PIB intelectual do país: Roberto Schwarz, Modesto Carone, Fernando Novais, Paulo Arantes, Milton Hatoum, Eduardo Escorel, José Arthur Giannotti, Carlos Augusto Calil, Danilo Santos Miranda, Sérgio Miceli, Augusto Massi, Antonio Arnoni Prado, para nomear alguns.

Candido falou por 25 minutos. Lembrou a trajetória de Mello e Souza (1919-2005), primeira professora de estética da Universidade de São Paulo. "Foi neste prédio que Gilda lecionou por 30 anos, e aqui ficarão os livros dela, suas ferramentas de trabalho."

Com a clareza característica de suas aulas, o professor enumerou as três forças motrizes da trajetória intelectual da ensaísta e professora.

A primeira foi a convivência dela com Mário de Andrade (1893-1945), primo-irmão de seu pai. Gilda viveu dos 11 aos 24 anos na mesma casa do "tio" Andrade, o famoso sobrado da rua Lopes Chaves, de onde só saiu para se casar.

"Mário orientava ela com a boa vontade que sempre dedicou aos mais jovens."

Quando ela revelou a Mário que queria ser escritora e que pensava em cursar letras, o modernista desaconselhou. "Vá estudar sociologia ou filosofia." Ela acatou.

A então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP foi a "segunda força". "Aquela filha de Maria criada em Araraquara desenvolveu lá seu espírito crítico", disse, bem-humorado.

Além de ter sido o primeiro espaço de estudo sistemático de humanidades no Brasil, a faculdade foi, segundo Candido, uma das primeiras na qual houve "intenso convívio de moças com moços". "Para o estatuto da mulher foi uma revolução."

A terceira matriz da formação da intelectualidade da homenageada foi a revista "Clima", publicação acadêmica ativa entre 1941 e 1944.

"A revista era feita por umas 17 ou 18 pessoas, mas no 'coração da alcachofra' estavam seis pessoas. Cinco homens e Gilda. Ela era tratada como um rapaz", disse Candido, com sorriso maroto.

Ao final, Candido disse que quando chegaram à faculdade, tudo era "futuro absoluto". Depois, quando professores, aquilo era "presente inesperado". Então, o presente vira o passado, e somos homenageados. "Gilda, aquela jovenzinha, ficaria assustada com uma homenagem como esta." E muitos aplausos.


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