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Diário de um detento

Preso em casa na China, Ai Weiwei terá em fevereiro sua 1ª individual no país, no MIS

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Em 4 de junho de 1994, Ai Weiwei fotografou sua mulher levantando a saia e mostrando a calcinha na praça da Paz Celestial, em Pequim.

Não era uma data qualquer. O artista chinês, que terá em fevereiro sua primeira individual no Brasil, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, acabava de voltar de uma década vivendo em Nova York, e aquele era o aniversário de cinco anos do massacre ocorrido ali, ponto que marcou a onda violenta de repressão na China.

De lá para cá, o país ganhou força no cenário geopolítico equivalente à exposição midiática global do autor.

Seus ataques ao regime, tanto em sua obra quanto em manifestações pelas redes sociais, acabaram despertando a ira do governo e culminaram na prisão domiciliar que o artista cumpre agora em Pequim, além da proibição de se pronunciar na internet.

Mesmo confinado à sua casa desde o ano passado, depois de ficar encarcerado por três meses, Ai não deixou os holofotes da cena artística.

A individual de fevereiro de 2013 no MIS, uma retrospectiva de sua obra fotográfica, chega ao país três anos depois de o artista participar da Bienal de São Paulo com uma instalação.

"Essas fotografias revelam mais sobre sua atitude e seu pensamento político do que o resto de sua obra", diz Urs Stahel, curador da mostra, à Folha. "Elas mostram desde a época em que vagava por Nova York até sua vida em Pequim e a rotina do ateliê."

Suas imagens em preto e branco, de fato, começam como espécie de diário visual de seus anos em Manhattan, onde conviveu com o poeta beatnik Allen Ginsberg e estudou a obra de Marcel Duchamp. Mas, no fim dos anos 1980, Ai voltou suas lentes para a degradação urbana da cidade e a truculência policial em manifestações de rua.

Esse olhar crítico parece se adensar no retorno do artista a Pequim. Filho do poeta Ai Qing, perseguido pela ditadura e condenado a trabalhos forçados numa área remota do nordeste da China, Ai passara a adolescência numa espécie de deserto intelectual. Virou artista em Nova York e regressou à terra natal num momento que ele descreve como "negro".

"Essa era a cor de fundo, como se tivéssemos todos caído num balde de tinta", escreveu Ai em seu blog censurado pelo Estado chinês em 2009. "Não havia outra cor."


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