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Fotógrafo faz registro intimista da relação com pai em novo livro
"Moscouzinho", de Gilvan Barreto, traz imagens de Pernambuco
"Moscouzinho", livro de fotos de Gilvan Barreto, 39, é a reinvenção de um território afetivo. Motivado pela morte do pai, em 2010, de quem herdou o nome, Barreto retornou a sua cidade natal, Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, para materializar luto e saudade.
"A ideia inicial era um livro documental. Acima de tudo, é uma homenagem aos anos que passei ao lado de meu pai em campanhas políticas da esquerda durante a ditadura militar", diz.
Jaboatão recebeu o apelido carinhoso de Moscouzinho por ter eleito o primeiro prefeito comunista no país, no final da década de 1940.
A proposta documental foi abandonada em favor de uma narrativa poética, que mistura fotografias e colagens de documentos obtidos no arquivo da ditadura em Pernambuco, onde o fotógrafo encontrou papéis de investigação que envolviam seus pais e outros conhecidos.
"Os documentos oficiais são grandes ficções de intenções nada louváveis", reclama Barreto, para afirmar a necessidade de descolamento da realidade documental de seu trabalho.
A Moscouzinho criada pelo fotógrafo é formada por imagens que mostram lugares solitários, abandonados, em que a maioria dos resquícios é feita de objetos esquecidos pelo caminho.
Um guarda-chuva quebrado, restos de cera de vela, campos em que a grama começa a esconder os belos pisos de época. Em muitas vezes, a perfeição formal fotográfica é deixada de lado, como se a preocupação técnica fosse deixar o sentimento de luto escapar.
O livro é acompanhado de três textos. Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca, Xico Sá, escritor e colunista da Folha, e Fred Zeroquatro, da banda Mundo Livre S/A, assinam as pausas entre os grupos de imagens estabelecidos pelo autor.
Barreto projeta o livro como o início de uma trilogia na qual fotografia e poesia se misturam. Por enquanto, Moscouzinho dá conta de absorver a dor da perda íntima não só de seu pai mas também de sua mãe, que morreu durante o processo do livro.
"Gosto de pensar que Moscouzinho é a própria República Socialista do Afeto."