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Análise
Temporada clássica de 2012 teve qualidade, além de diversidade
Ano marcado pela chegada de Marin Alsop à Osesp teve recitais sublimes de Keith Jarett e András Schiff
A REGENTE MARIN ALSOP TEM UM PODEROSO INTELECTO MUSICAL. SUAS ESCOLHAS INTERPRETATIVAS ABDICAM DOS EFEITOS, PRIVILEGIAM AS ESTRUTURAS SONORAS
A "Missa em Si Menor" de Bach (1685-1750) com o Coro e Orquestra Bach de Stuttgart (dirigidos pelo especialista Helmuth Rilling em maio) foi uma importante referência de qualidade para a música clássica paulistana em 2012.
Ela dialogou involuntariamente com o tema da temporada da Osesp, "Música em Tempos de Guerra e de Paz", e se somou a obras como a "Missa Solemnis", de Beethoven (1770-1827), a sinfonia "Kaddish", de Bernstein (1918-1990), e as sinfonias nº 5 e nº 8 de Shostakovich (1906-1975).
A chegada de Marin Alsop, a nova regente titular, foi o início de um trabalho ambicioso. Alsop tem um poderoso intelecto musical. Suas escolhas interpretativas abdicam dos efeitos, privilegiam as estruturas sonoras: era disso que a Osesp precisava.
"Concerto para Orquestra", de Bartok (1881-1945), ao lado do "Concerto para Violino", de Sibelius (1865-1957) solado por Jennifer Koh, e o programa com Magnus Lindberg, o compositor em residência do ano, foram alguns dos concertos especiais regidos por ela.
Para além, maestros como Lawrence Renes, Frank Shipway e Eiji Oue foram protagonistas de momentos memoráveis, como o programa de Oue com as sinfonias nº 1 de Brahms (1833-1897) e Bernstein.
INTERNACIONAL
Entre as orquestras internacionais, o Mozarteum acertou duplamente ao trazer a Sinfônica Alemã de Berlim (conduzida por Vladimir Ashkenazy) e a Sinfônica Nacional de Washington (com Christoph Eschenbach), enquanto a Cultura Artística foi bem sucedida na escolha de solistas, como o pianista Lang Lang e a soprano Renée Fleming. Pena o pianista Evgeny Kissin ter cancelado.
RECITAIS
Este ano foi também o ano do ressurgimento do Theatro Municipal como casa de ópera. Com direção artística de Abel Rocha, enfrentou seus limites musicais em "O Crepúsculo dos Deuses", de Wagner (1813-1883), e "Pelléas et Mélisande", de Debussy (1862-1918).
Também ousou com "Orfeo ed Euridice", de Gluck (1714-1787), e saiu na frente no bicentenário de Verdi (1813-1901) com "Macbeth" encenado por Bob Wilson.
A Sala São Paulo ofereceu pelo menos dois recitais de piano sublimes: Keith Jarrett em improvisações solo e András Schiff nas derradeiras sonatas de Haydn (1732-1809), Schubert (1797-1828) e Beethoven.
Mas falta ainda na cidade uma programação mais consistente de música de câmara. O gênero carece daquela combinação entre local adequado, data e programação coerente já conquistada por outros estilos.