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Crítica/Drama

Efeitos visuais salvam "A Viagem" de filosofices

Inspirado em livro que é mescla indigesta de pensamentos e religião, filme garante diversão pelos momentos de ação e humor

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

O projeto de representar uma ideia ao longo de várias épocas distintas vem sendo tentado pelo cinema há quase um século, como um sonho que às vezes fez seus autores caírem da cama.

Para realizar "A Viagem", os irmãos Lana e Andy Wachowski (da trilogia "Matrix") dividiram com Tom Tykwer (do ofegante "Corra, Lola, Corra") a tarefa de contar seis histórias em rede, em que destinos se cruzam e se determinam, como uma demonstração de que "tudo está conectado".

A reunião de três diretores de prestígio justifica-se tanto pela ambição de fazer cruzar as múltiplas histórias em cenários e tempos distintos como pela escala de uma superprodução que equilibra o peso dos efeitos visuais com outras dimensões humanas.

Uma aventura nos mares do Sul em meados do século 19 deixa rastros nos desafios morais enfrentados por um compositor bissexual que viaja pelo Reino Unido nos anos 1930 e, quatro décadas depois, ainda serve como prova para uma repórter que investiga um risco nuclear.

Nos dias atuais, um editor falido torna-se refém de um complô familiar, enquanto num futuro distópico uma clone escapa de uma sociedade baseada no controle e, num tempo indefinido, sua imagem transforma-se em objeto de culto por uma comunidade que luta para sobreviver num mundo arcaico.

Apesar de as histórias serem visualmente distintas e estruturadas de um modo alternado que impede o público de se confundir, a ideia de "interconectividade universal" as reúne com base na presença dos mesmos atores, que em alguns casos interpretam papéis contrapostos.

Isso não impede que o roteiro, adaptado de um best-seller do autor britânico David Mitchell, se distinga do samba do crioulo doido.

De fato, o texto é uma mescla indigesta de pensamentos à Paulo Coelho, filosofia de almanaque e religiosidade "prêt-à-porter" para comprovar crenças como a presciência e a reencarnação.

Mas se os Wachowski conseguiram, com "Matrix", convencer até intelectuais de peso a dar crédito ao seu coquetel de filosofices, o que os impediria de dar um passo adiante e avançar no terreno da fé?

Há, contudo, sob essa camada pretensiosa, um outro filme em "A Viagem", um espetáculo hollywoodiano bem acima da média, com uma impressionante maquinaria visual que faz das situações de ação e dos bem resolvidos momentos cômicos e dramáticos a verdadeira atração.

Para os descrentes, a diversão é mais que suficiente.


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