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Crítica romance

Turguêniev retrata impotência das ideias progressistas na Rússia

Escritor russo reflete com maestria sobre a desilusão de personagem tolhido pelo conservadorismo de seu país

ALCINO LEITE NETO DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nos últimos anos, graças a importantes iniciativas editorias, os leitores brasileiros puderam (re)descobrir, em traduções muito bem-feitas, uma parte significativa do que os escritores russos produziram no século 19.

A literatura da Rússia oitocentista, porém, é um imenso oceano e muita coisa preciosa continua emergindo dali -como "Rúdin", de Ivan Turguêniev (1818-1883), lançado agora pela editora 34, em tradução da professora Fátima Bianchi.

O livro foi publicado em 1856, quando Turguêniev tinha 38 anos e já se tornara um autor de sucesso em seu país devido à coletânea de contos "Memórias de um Caçador" (1852).

Contista extraordinário, iniciou com "Rúdin" uma carreira igualmente grandiosa no romance, que chega ao ápice com "Pais e Filhos" (1862).

Os dois livros são, sobretudo, romances de ideias. Estão interessados em refletir sobre a situação da Rússia (uma autocracia ainda marcada pela servidão), a sua empedernida aristocracia e o papel dos "intelectuais" progressistas, dos "homens de ideias", com aspirações democráticas e cosmopolitas, num país extremamente conservador.

O protagonista Dmitri Nikoláievitch Rúdin (baseado no anarquista Mikhail Bakúnin) é um desses homens.

Ele um dia irrompe no salão provinciano de uma latifundiária e provoca ali total turbulência, com sua retórica encantadora e libertária, sua inteligência fulgurante e seu idealismo.

Aquele mundinho estagnado e pretensioso parece estar prestes a explodir sob o efeito das palavras de Rúdin, quando uma medíocre atribulação amorosa traz à tona toda a impotência do "herói".

MAESTRIA

Sendo um romance de ideias, "Rúdin" confere menos importância à trama do que aos diálogos e aos personagens, os quais Turguêniev aborda com maestria, em cada gradação dos sentimentos.

De Rúdin, ele faz um retrato ao mesmo tempo patético e cruel: um homem de real talento e ideais sinceros, mas cujos "exercícios intelectuais" acabam servindo, no fim das contas, de simples entretenimento para aristocratas e outros endinheirados, que ele, por sua vez, parasita para poder sobreviver.

Envelhecido, Rúdin descobre-se "um adolescente", "uma criatura inacabada", incapaz que foi de vencer a distância que sempre separou suas ideias de sua ação.

O último episódio deste romance magnífico -capítulo acrescentado na reedição de 1860, quando a censura no país se abrandara- conduz a vida de Rúdin a um desterro e a um desfecho surpreendente, trágico, de alta voltagem política. É também a redenção do personagem.

RÚDIN
AUTOR Ivan Turguêniev
EDITORA 34
TRADUÇÃO Fátima Bianchi
QUANTO R$ 42 (208 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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