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Artista se consagra com "política da pele"

Depois de expor na Documenta e na White Cube, Theaster Gates conquista crítica com obra sobre questão racial

Oriundo de Chicago cria reflexão sobre posição dos negros na sociedade americana em pinturas, instalações e vídeos

SILAS MARTÍ EM LONDRES

Enquanto cantava os versos de "Four Women", música em que Nina Simone descreve quatro tipos de negras americanas -entre "amarelas", "bronzeadas", "marrons" e "pretas"-, Theaster Gates cobria o rosto com borrões de maquiagem feita para tons de pele mais escuros.

Esse artista, que também é negro e tem uma banda de blues, fazia ali uma performance para convidados na White Cube, em Londres, onde abriu uma mostra individual no fim do ano passado.

Todo o trabalho de Gates parece estar ancorado na questão racial. Em sua "política da pele", ele soube usar as armas do mercado da arte para atualizar o que antes seria tachado como panfletário.

Suas performances, instalações e esculturas, que refletem com acidez sobre a posição dos negros na sociedade americana, conquistou a crítica e virou a tradução visual dos EUA na era Obama.

Depois de passar pela Documenta, em Kassel, na Alemanha, essa ascensão meteórica foi coroada em Londres, onde ocupou a galeria mais poderosa da Europa, sem medo de afirmar que é "o grande artista negro do momento".

Em Chicago, onde nasceu e ainda vive, Gates aproveitou o colapso econômico de cinco anos atrás para comprar e reformar quase um bairro inteiro na periferia e lá instalou uma comunidade para artistas plásticos.

Depois,ele levou os destroços da construção nos Estados Unidos e expôs tudo como escultura na Documenta. Sua mostra em Kassel foi em outro prédio histórico que ele renovou ao longo da exposição, chamando operários brancos e negros para embaralhar os entulhos das cidades americana e alemã.

SUBJUGAR SEM MATAR

Essa ideia de ética do trabalho faz parte da obra. Em Kassel, toda sua entourage, entre músicos e assistentes, viveu com ele no prédio ocupado para a exposição, numa performance contínua.

Na mostra em Londres, Gates torrou centenas de milhares de libras para pendurar do teto da galeria um caminhão de bombeiros. O Ford de 1967 tem como contrapeso uma estante com toneladas de livros sobre a cultura negra nos Estados Unidos, incluindo relatos do surgimento dos primeiros cosméticos feitos para negras no país.

"Não penso nesse caminhão sem imaginar o jato de água usado para conter as massas em manifestações pelos direitos civis, para subjugar sem matar", disse Gates à Folha, em Londres. "Isso se equilibra com o peso da história negra, a identidade, as crenças e a força deles."

Filho de um pedreiro, Gates, aliás, vem usando materiais de construção -como piche no lugar da tinta- em seus desenhos e pinturas, aproveitando a inflação sofrida por qualquer objeto que entra numa galeria de arte.

"Sei que um quadro desses vale mais do que 30 telhados construídos pelo meu pai", diz Gates. "Uso o mundo da arte para falar de coisas muito maiores do que isso."


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