Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica romance

Narrativa rocambolesca faz sátira à sociedade argentina

NOEMI JAFFE ESPECIAL PARA A FOLHA

O budismo zen, segundo o escritor argentino Ariel Magnus -ou melhor, segundo Ramiro, narrador do romance "Um Chinês de Bicicleta"- é como "preferir pensar que está chovendo para não ver que estão mijando sobre você".

Frases como "Os chineses entenderam muito rapidamente que nunca encontrariam um sistema mais burocrático que o comunismo e que a burocracia é a forma mais bem-acabada de hedonismo", mais PlayStation misturado a Topo Gigio e Confúcio, máfias chinesa e judaica e um mangá sobre um incendiário apelidado Fosforinho são ingredientes que compõem essa rapsódia macunaímica argentina.

Numa linguagem aflita e veloz, Magnus provoca gargalhadas no leitor, enquanto não abandona uma crítica severa à sociedade argentina.

É certo que esse tipo de "caldeirão popular/filosófico/cibernético/urbano", com dicção entre juvenil e entediada, há algum tempo vem dominando romances, dos Estados Unidos ao Brasil.

Mesmo assim, ao longo da leitura de "Um Chinês de Bicicleta", a sensação é de que se está lendo algo novo no que está sendo dito e na forma como se diz.

A trama -recheada de nonsense- é a de um baixinho, gorducho e sardento (mas não judeu, para a frustração de seu companheiro de narrativa) que é sequestrado por um chinês, acusado de incendiar lojas, mas que quer provar sua inocência com a ajuda do primeiro.

Para isso, instala-o no bairro chinês de Buenos Aires, com total liberdade de locomoção. Ramiro conhece as tradições, a religião e a cultura chinesas, faz amizades com dois viciados em ópio e se apaixona por uma costureira de vestidos de noivas.

A narrativa rocambolesca, em tom de farsa misturada a um tipo de "Grande Lebowski", nos leva a conhecer os meandros de Buenos Aires, seus preconceitos étnicos e sociais e inúmeras semelhanças com aspectos não muito nobres do próprio Brasil, o que se deve em parte à excelente tradução.

Em alguns momentos, entretanto, parece que Magnus se entusiasma com o estilo e exagera nos diálogos absurdos. De qualquer forma, é um livro impossível de largar, que faz rir muito e, muitas vezes, quase chorar. Recomendo.

NOEMI JAFFE é doutora em literatura e autora de "A Verdadeira História do Alfabeto" (Companhia das Letras)

UM CHINÊS DE BICICLETA
AUTOR Ariel Magnus
EDITORA Bertrand Brasil
TRADUÇÃO Marcelo Barbão
QUANTO R$ 34 (280 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página