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Crítica ensaio

Autor inglês desmonta teorias críticas a Marx em novo livro

Em "Marx Estava Certo", Terry Eagleton rebate argumentos conservadores

VLADIMIR SAFATLE COLUNISTA DA FOLHA

Houve uma época em que o debate a respeito do marxismo no Brasil conseguia escapar ao lugar-comum.

Em obras de autores como Paulo Eduardo Arantes, Ruy Fausto, José Arthur Giannotti e Roberto Schwarz, o Brasil descobriu um Marx ancorado na tradição filosófica hegeliana, capaz de fornecer modelos reflexivos para a crítica literária, para a compreensão da estrutura global das relações entre centro e periferia e para as modalidades de sofrimento social provocadas pelo fetichismo próprio a nossas sociedades.

Mesmo boa parte dos críticos do marxismo eram, por essa razão, capazes de desenvolver contraposições um pouco menos toscas do que a pressuposição de uma linha reta entre a crítica da alienação do trabalho e Pol Pot ou entre a teoria da mais-valia e os "gulags".

Mas o nível atual do anti-marxismo é tão primário que livros como "Marx Estava Certo", de Terry Eagleton acabam por se tornar necessários.

Neste livro, Eagleton copilou todos os lugares-comuns do anti-marxismo renhido e procurou desmontá-los.

A ideia de que o marxismo nada teria a dizer a respeito de sociedades pós-industriais; de que ele é ótimo na teoria, mas na prática só produziu terror e genocídios; de que o marxismo é uma forma de determinismo economicista; de que a noção de classe não descreve mais realidade alguma; de que não é possível ser, ao mesmo tempo, marxista e democrata: todas essas platitudes repetidas "ad nauseam" pelo pensamento conservador estão no livro de Eagleton.

Apoiando-se diretamente nos textos de Marx, mas também na chamada tradição do marxismo ocidental (Escola de Frankfurt, os "cultural studies" britânicos e autores contemporâneos como Ellen Wood, Slavoj Zizek e Norman Geras), o autor procura mostrar como tais colocações não respeitam a complexidade das posições do filósofo alemão.

DERROCADA

Ele tenta ainda fornecer novas explicações para a derrocada, a partir do final dos anos 1970, do marxismo como referência intelectual crítica.

A seu ver, "o que ajudou a desacreditar o marxismo foi, sobretudo, uma sensação arrepiante de impotência política", já que "não foram as ilusões sobre o novo capitalismo, mas a desilusão quanto à possibilidade de mudá-lo que mostrou ser o fato decisivo".
Como lembra Eagleton, Marx é acusado de ultrapassado pelos defensores de um capitalismo que está em processo de regressão aos níveis de desigualdade da época da Inglaterra vitoriana.

Por um capitalismo que, como a China de Mao ou a URSS de Stálin, também foi forjado com sangue e lágrimas, mas que sobreviveu bastante tempo para esquecer boa parte desse horror.

Se este é o ponto forte de seu livro, valeria a pena trabalhar melhor aspectos da renovação do marxismo, em especial a dificuldade de Marx em escapar de uma filosofia da história que acabou por justificar, muitas vezes, o colonialismo.

Uma teoria não se enfraquece por reconhecer seus limites.

MARX ESTAVA CERTO
AUTOR Terry Eagleton
EDITORA Nova Fronteira
TRADUÇÃO Regina Lyra
QUANTO R$39,90 (232 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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