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"O Mágico de Oz" ganha duas novas edições integrais
Editoras prepararam traduções do texto original para acompanhar filme e musical que estreiam no país
Dorothy sempre foi considerada uma Alice menos profunda, mas narrativa simples gerou leituras sofisticadas
"O Mágico de Oz" nasceu com talento para a multiplicação. Isso o escritor americano L. Frank Baum (1856-1919) percebeu tão logo publicou o livro, em 1900.
A obra vendeu 90 mil cópias em dois anos, número altíssimo para os EUA de então, o que inspirou o autor a lançar inúmeras sequências.
O primeiro musical saiu em 1902; o primeiro filme, em 1910. A versão dirigida por Victor Fleming e protagonizada por Judy Garland, em 1939, foi só a mais famosa.
Se nunca chegou a sumir das livrarias -no Brasil, há pelo menos meia dúzia de edições em catálogo, a maior parte delas resumida-, o clássico neste ano volta ao centro das atenções.
Em março, estreia em São Paulo o musical "O Mágico de Oz" (leia abaixo). No mesmo mês, chega aos cinemas "Oz, Mágico e Poderoso", de Sam Raimi, com James Franco e Rachel Weisz. É um prelúdio: conta como Oz chegou à terra que levaria o seu nome.
Assim como aconteceu em 2010, quando o cineasta Tim Burton adaptou "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, começam a pipocar novas edições da obra, há décadas em domínio público.
As duas primeiras, previstas para as próximas semanas, recuperam o texto original em novas traduções.
Na semana que vem sai a da Tordesilhas, com texto vertido por Tiago Novaes Lima e ilustrações em aquarela e colagem, com uso de photoshop, por Ana Raquel.
A edição da Zahar, de bolso, que deve chegar às livrarias no dia 14, é mais "retrô". Traz cerca de 50 das ilustrações originais, de 1900, assinadas por W.W. Denslow.
A tradução é de Sergio Flaksman, que buscou "respeitar a aparência de simplicidade mantendo qualidades não tão óbvias do texto, como a concisão e o humor".
AÇUCARADA
Dorothy, a protagonista da principal história de Baum, nunca se livrou da pecha de ser uma Alice açucarada.
Ambas ficaram conhecidas por viagens de uma realidade cinza a um reino fantástico -Dorothy a bordo de um ciclone; Alice, enfiando-se num buraco-, mas Dorothy é, por assim dizer, menos profunda.
Baum dizia não querer mais do que isso. "A criança moderna procura apenas diversão em suas histórias fantásticas, dispensando alegremente todos os incidentes desagradáveis", anotou, mais de cem anos atrás. "'O Mágico de Oz' foi escrita apenas para o prazer das crianças."
Mas nunca faltaram leituras aprofundadas. "Há múltiplas alegorias", diz o tradutor Tiago Novaes Lima, ressaltando a política ("um rei poderoso que não passa de uma quimera sustentada pelo medo") e a psicológica ("um grande outro, sujeito de suposto saber, a quem cabe resgatar a inocência").
A tradução da Zahar ganhará em novembro edição comentada e com apresentação de Gustavo Franco, que pesquisou a fundo uma tradicional leitura econômica.
Por esse olhar, a obra representaria o debate da época sobre o chamado "padrão ouro", que limitava o crescimento da oferta de moeda ao aumento da oferta de ouro. A estrada de tijolos amarelos que leva Dorothy a Oz simbolizaria o ouro; o Espantalho, os agricultores; e por aí vai.
"É uma leitura sofisticada e minuciosa", diz o editor da obra, Rodrigo Lacerda. "Se não for verdade, é de todo modo uma boa história."
O MÁGICO DE OZ
AUTOR L. Frank Baum
TRADUÇÃO Sergio Flaksman
ILUSTRAÇÕES W. W. Denslow
EDITORA Zahar
QUANTO R$ 19,90 (224 págs.)
O MÁGICO DE OZ
TRADUÇÃO Tiago Novaes Lima
ILUSTRAÇÕES Ana Raquel
EDITORA Tordesilhas
QUANTO R$ 39,90 (132 págs.)