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Crítica antologia

Obra reunida confirma autor no topo da poesia brasileira

RODRIGO GARCIA LOPES ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos grandes acontecimentos literários do ano no Brasil. É o que já se pode dizer do lançamento de "Toda Poesia", de Paulo Leminski.

Aguardado por um público cada vez mais cativo e que não para de crescer, o livro reúne a obra poética do autor paranaense, interrompida aos 44 anos.

Seus principais livros há muito estavam fora de catálogo, tornando-se raridades. Agora o leitor tem a chance de comprovar a vitalidade, inteligência e multiplicidade de sua obra.

O livro traz mais de 600 poemas. Se perde ao não reproduzir a relação simbiótica que sua poesia estabelece com fotos de Jack Pires ("Quarenta Clics") e desenhos de João Suplicy ("Winterverno"), por outro lado recupera poemas que ficaram de fora de "Caprichos & Relaxos".

Polêmico e polimorfo, poucos como Leminski foram, depois de morto, tão esculhambados por seus próprios pares. Eram comuns os epítetos de "poeta-piada", "mero frasista polêmico", "poeta pop".

Principalmente depois que "Caprichos & Relaxos" tornou-se um best-seller e ele virou uma grande referência, com o pecado de também fazer sucesso na MPB.

Leminski conseguiu, como escreve Wisnik, uma "aliança entre concentração e desconcentração" que poucos poetas alcançaram. O escritor fazia uma poesia que chegava junto e não ficava puxando assunto.

EXPERIMENTALISTA

Eruditíssimo, com domínio total da linguagem, como prova no romance "Catatau", foi além do concretismo e da poesia marginal (que ele não repetiu simplesmente).
É um dos mais importantes poetas brasileiros de todos os tempos. Entre outras coisas, resgatou a "logopeia" (a dança do intelecto entre as palavras) para uma poesia brasileira cada vez mais asséptica e formalista.

Ao lado de obras-primas (o concreto "Metamorfose") e peças imprescindíveis, como "um deus também é o vento", "O Velho Leon e Natália em Coyoacán", "Iceberg", "Aviso aos Náufragos", "Invernáculo" e "um homem com uma dor" (momentos que fundem imagem, música e pensamento), temos poemas descartáveis ("amar é um elo").
"Toda Poesia" é desigual? Sim, como é desigual "Poesia Completa", de Carlos Drummond de Andrade.

Com a diferença de que Leminski, experimentalista nato, tinha consciência de que "errava muito", assumindo riscos. O poeta nos quer por inteiro, desejo já expresso no título "Caprichos & Relaxos".

Num tempo em que boa parte dos poetas parece escrever cada vez mais para si mesmos ou para a crítica, num campo literário infestado de políticas de compadrio e ausente de verdadeiras discussões de valores estéticos, onde há muita pose e pouca poesia, "Toda Poesia" chega em boa hora.

RODRIGO GARCIA LOPES, poeta e compositor, está lançando seu segundo CD, "Canções do Estúdio Realidade".

TODA POESIA
AUTOR Paulo Leminski
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 46 (424 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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