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Realismo é a aposta dos competidores em Berlim
11 dos 19 concorrentes ao Urso de Ouro seguem escola naturalista de filmagem
Chileno "Gloria" e romeno "Child's Pose" dominam bolsas de apostas para prêmio, que será entregue hoje
A tendência de um cinema cada vez mais realista consolidou-se de vez no 63º Festival de Berlim, que termina hoje com a cerimônia de entrega do Urso de Ouro.
Dos 19 concorrentes ao prêmio, 11 deles seguem a escola naturalista de filmagem e interpretação.
Nela, o roteiro é deixado de lado (vários cineastas nem entregam o texto para os atores), as atuações são baseadas em improvisações e em detalhes dos personagens e as câmeras possuem um estilo documental -apesar de muitos documentários hoje em dia perseguirem a clareza técnica.
"Nunca entrego os roteiros para os atores, porque não acho que faça diferença. Quero que eles se surpreendam ou se emocionem de verdade, sem preparação", conta o diretor francês Bruno Dumont.
O cineasta usou autistas e pacientes de um hospital psiquiátrico real para acompanhar a atriz Juliette Binoche em "Camille Claudel 1915".
O bósnio Danis Tanovic e o austríaco Ulrich Seidl também recorreram a não atores para seus "An Episode in the Life of an Iron Picker" e "Paradise: Hope".
O primeiro capturou a família real de um catador de sucata, enquanto o segundo recrutou meninas obesas em escolas.
"Para mim, a ficção sempre começa com a realidade", afirma Tanovic.
FAVORITOS
Os outros filmes na disputam não foram tão longe. Os dois principais favoritos ao Urso de Ouro, o chileno "Gloria", que alcançou a maior cotação nas revistas especializadas, e o romeno "Child's Pose" são estudos de personagens, com câmeras desfocadas, incômodas e trêmulas.
"Eu tentei recriar o sentimento de que estamos acompanhando seres humanos de verdade na tela. Interesso-me pela intersecção que existe entre ator e personagem", diz o diretor Sebastián Lelio, de "Gloria".
Se o iraniano "Cortinas Fechadas", de Jafar Panahi, se aproveita da prisão do seu diretor para construir uma metalinguagem, o russo "A Long Happy Life", o canadense "Vic + Flo Saw a Bear" e o polonês "In The Name Of" apostam na crueza de suas imagens.
Ironicamente, a cena mais real e chocante do festival, a morte de uma ovelha em "Harmony Lessons", de Emir Baigazin, representante do Cazaquistão, foi falsa.
"Não matamos de verdade, porque o câmera era vegetariano", contou o diretor.
"Mas e as baratas, os pássaros e os peixes que matamos? Por que ninguém fala sobre isso? Estamos sendo hipócritas", completou.