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Crítica / Teatro de animação

Com narrativa sofisticada, peça do Sobrevento é antológica

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

O ELENCO DE ATORES MOSTRA QUALIDADE NA DESTREZA CONCENTRADA DA MANIPULAÇÃO E NA ELOCUÇÃO DAS FALAS

Milagre teatral. O espetáculo "São Manuel Bueno, Mártir", do grupo Sobrevento, é a prova de que o teatro de animação tem poderes miraculosos e pode realizar com pequenos seres esculpidos na madeira obras com força poética rara.

Fruto de uma longa pesquisa do internacionalmente reconhecido grupo, o trabalho iniciou-se com objetos animados, mas transbordou para uma forma híbrida, em que se combinam pequeníssimos bonecos, miniesculturas quase abstratas e um desempenho bem convincente de atores.

A base da dramaturgia desenvolvida na montagem foi o romance homônimo de Miguel de Unamuno (1864-1936). O autor, espanhol do País Basco, o escreveu em 1931.

O livro conta a história do padre de uma aldeia de interior que, mesmo dedicado inteiramente à sua comunidade e adorado por ela, manteve durante toda a vida uma dúvida absoluta quanto à sua própria fé na doutrina católica, e fez dessa incerteza o seu martírio.

A adaptação dos diretores, Luiz André Cherubini e Sandra Vargas, driblou a complexidade teológica do livro com uma narrativa ao mesmo tempo cristalina e sofisticada.

A encenação alterna momentos de puro relato, ilustrados pelo manuseio das figuras esculpidas, com situações dialógicas, em que os atores se confrontam diretamente ou por meio de suas extensões animadas. O jogo é singelo como um faz de conta infantil, mas alcança momentos brilhantes, entre os quais sobressai uma festa de São João.

O elenco de atores, que inclui os dois diretores e o excelente Mauricio Santana, este na pele do padre Manuel, mostra qualidade tanto na destreza concentrada da manipulação, feita sobre uma mesa redonda, como na elocução das falas, muitas vezes de teor filosófico e religioso.

As esculturas do artista popular Mandi também são componentes decisivos no êxito da montagem. Elas vão desde pequenos bonecos figurativos, que atendem às primeiras aparições dos personagens, até não muito maiores formas desfiguradas, como se no decorrer da trama aquelas imagens diminutas fossem perdendo contornos e se tornando menos nítidas.

A criação do Sobrevento, combinando pesquisa exaustiva com simplicidade de soluções, é antológica e deve ainda encantar muitas plateias, no país e pelo mundo afora.


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