Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Em livro, Miranda July vive Miranda July

"Este é primeiro trabalho no qual sou eu mesma", diz à Folha multiartista americana, símbolo do cinema indie

"O Escolhido Foi Você" reúne entrevistas feitas por cineasta no processo de filmagem do longa "O Futuro"

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

Mais do que um nome, Miranda July tem se transformado, pouco a pouco, numa espécie de categoria.

Um ano antes de chegar aos 40, a americana já foi artista na Bienal de Veneza, no MoMA, no Guggenheim etc., já foi escritora publicada pela Scribner, nas revistas "The New Yorker", "The Paris Review" etc., já foi cineasta premiada em Sundance, Cannes etc.

Amada ("I love Miranda July" tem 15 mil ocorrências no Google) e odiada ("I hate Miranda July" outras 3.000, e já foi o título de mais de um blog), ela é considerada um epítome do "cool", do "indie", do "hipster".

Agora é a hora de conhecer a opinião de Miranda July sobre quem é Miranda July. A melhor maneira, aponta a própria, é ler "O Escolhido Foi Você", livro dela que a Companhia das Letras lança nas próximas semanas.

"Sempre me perguntam se a personagem dos meus filmes sou mesmo eu. E acho que o fato de eu mesma interpretar meus filmes ajuda que as pessoas pensem isso", diz ela em entrevista à Folha.

"Mas nunca tinha feito nada autobiográfico. Este livro é meu único trabalho no qual eu sou eu mesma."

Não pense, por isso, que "O Escolhido Foi Você" tenha parentescos com uma autobiografia tradicional. Em essência, o livro é uma coletânea de entrevistas que July realizou em 2009 enquanto procurava dar conta de um longo bloqueio criativo.

Depois do sucesso de seu longa de estreia, "Eu, Você e Todos Nós" (2005), ela quebrava a cabeça para realizar o filme seguinte.

Encontrou a luz na caixa de correio. Todas as terças-feiras, recebia um jornalzinho ordinário e gratuito de classificados chamado "PennySaver". E resolveu ir conversar com as pessoas que anunciavam nele.

Michael, um mecânico que passava pelo processo de mudança de sexo, queria vender uma jaqueta de couro; a dona-de-casa Matilda anunciara sua coleção de Ursinhos Carinhosos; a aposentada Pauline oferecia uma mala.

Nas entrevistas com personagens como estes, encontrou, além de reflexões importantes sobre ela mesma, um tema para seu filme (a da garota, interpretada por ela mesma, que entrevista anunciantes do "PennySaver") e um dos protagonistas.

Joe, ex-pintor de paredes que anunciava cartões artesanais, virou um dos atores de "O Futuro", longa que estreou em 2011 (no Brasil, só exibido em festivais). Ele veio a morrer pouco depois das filmagens, e é a ele e à sua viúva que o livro é dedicado.

Não é, porém, na conversa com o dócil senhorzinho que July mais se expõe.

No bate-papo com Primila, uma senhora de Bombaim que tentava vender trajes indianos, ela faz o autorretrato da artista quando jovem.

Diz que seus livros e filmes são "sobre pessoas tentando se conectar de algum jeito, e a importância disso. E sobre as várias maneiras de como as pessoas meio que fazem isso ser mais difícil do que o necessário." É isso mesmo, July?

"Eu me lembro que assim que transcrevi esta parte da entrevista me dei conta de que havia usado como explicação sobre minha obra exatamente aquilo que sempre disseram sobre mim", diz.

"Não sei se concordo exatamente com tudo isso, mas certamente com a segunda parte. Por que as pessoas tornam as conexões mais difíceis do que precisariam ser?"

A escolha destes personagens que tentam vender pertences num jornalzinho à moda antiga não é casual (ou não revelou-se assim). Para alguém obcecada por "conexões", a internet é um fascínio (e um pavor).

"Pensei que, se usassem computador, estas pessoas não anunciariam no jornalzinho, mas na internet. E isso se confirmou. Eram pessoas analógicas, talvez as últimas que existem por aí. Fico assustada com o tamanho que o computador tomou na vida de cada um, sobretudo na minha", exprime na entrevista (feita por Skype).

Miranda July diz que agora é a hora de desconectar.

O ESCOLHIDO FOI VOCÊ
AUTORA Miranda July (com fotos de Brigitte Sire)
TRADUÇÃO Celina Portocarrero
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 52 (224 págs.)


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página