Folha de S.Paulo

Haneke, diretor de 'Amor', estreia encenação de ópera de Mozart

LUISA BELCHIOR COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Em janeiro, enquanto seu filme "Amor" era eleito o melhor longa-metragem pela Associação Nacional dos Críticos de Cinema dos Estados Unidos, depois de receber a Palma de Ouro em Cannes e cinco indicações ao Oscar, o cineasta austríaco Michael Haneke passava os dias em Madri ouvindo Mozart e alheio às notícias.

Não era um refúgio, mas a montagem de "Così Fan Tutte", ópera do compositor que Haneke estreia hoje no Teatro Real da capital espanhola.

Durante toda a estadia em Madri, o cineasta fez mistério sobre o novo trabalho, inclusive durante coletiva de imprensa em que participou anteontem: "Deixem-se surpreender".

A ideia atraiu os espanhóis, que, mesmo com a crise, pagaram € 360 (cerca de R$ 990) para ver a ópera. Até o fim da tarde de ontem, cerca de 90% dos ingressos para as dez sessões da ópera tinham sido vendidos, desempenho recorde na temporada do Teatro Real, que tem capacidade máxima de 1.746 lugares.

Dividida em dois atos de 90 minutos, a ópera será acompanhada por coral e orquestra oficiais do Teatro Real, que coproduz a montagem com o Teatro da Moeda de Bruxelas. Mais do que isso, os envolvidos revelaram pouco. O diretor artístico do Real, Gerard Mortier, disse apenas que a versão de Haneke para a obra contém muitos elementos cinematográficos.

A obra atraiu Haneke por conter um elemento comum a seus filmes: o realismo, segundo o próprio cineasta. Ambientada em Nápoles no fim do século 18, a ópera conta a história de dois jovens que seduzem suas respectivas noivas em uma aposta de que elas nunca os trairiam.

"Nunca colocaria em cena uma ópera de Wagner", disse Haneke.

Depois de quase dois meses alternando sua rotina entre o Teatro Real de Madri e seu hotel, o cineasta teve dia de estrela anteontem. Na entrada da cerimônia em que recebeu uma medalha de ouro do Círculo de Belas Artes da capital espanhola, enfrentou fila em busca de autógrafos e uma coletiva de imprensa lotada por jornalistas e fãs.

Hoje, Haneke embarca para os Estados Unidos, onde participará da cerimônia do Oscar, amanhã à noite.

Depois da cerimônia, em que concorre a melhor diretor, qualquer que seja seu resultado, ele disse que voltará a se refugiar para escrever um novo roteiro. Por isso, indicou, o trabalho que estreia hoje é provavelmente a última montagem de uma ópera que ele fará.

O espetáculo será exibido nessa sala de Madri em dez apresentações, até o dia 17 de março. No dia 12, a Rádio Nacional Espanhola transmitirá o concerto, que no Brasil pode ser acompanhado pelo site www.rtve.es.

A apresentação em Madri será transformada em DVD, ainda sem previsão de lançamento.